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Channel: Entrevista – Blog da Itiban
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Pequena entrevista com Allan Sieber

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O nosso convidado da semana, Allan Sieber, respondeu uma pequena entrevista por e-mail para já prepararmos o terreno para quinta-feira.

Que tipo de situação faz o Allan Sieber rir, o que o deixa puto e o que o faz querer fazer humor?

Eu rio com velhos caindo, fico puto com os jovens e os adolescente idiotas me obrigam a fazer humor.

Existe limite para uma piada? O humor pode ser imoral ou é sempre amoral?

Humor tem que bater. Mas não vale bater nos mais fracos.

Existe algum tema que você prefere não mexer?

O tempo em que tive que ganhar a vida como travesti no interior de Goiás.

Rafinha Bastos ser um referencial de humor pra muita gente é uma comédia latina, uma tragédia grega ou um dramalhão mexicano?

Eu vi umas 3 vezes esse cara na TV. Não achei extamente um DIVISOR DE ÁGUAS.

Você tem interesse em fazer mais jornalismo “a Allan Sieber”, como a cobertura da Fashion Rio, que saiu no seu álbum É tudo Mais ou Menos Verdade?

Sim, mas ninguém me chama para mais nada depois do controverso episódio de Mônaco em 2010.

O mundo está ficando mais chato ou foi o humor que mudou?

Tá tudo uma merda. Ou não. Depende do dia.



Morro da favela na Europa

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Na noite em que receberia os prêmios de melhor roteirista e melhor edição especial nacional no 24.º Prêmio HQ Mix, no último sábado, André Diniz tinha acabado de voltar da Europa, onde participou dos eventos de lançamento das versões inglesa e francesa de Morro da Favela.

Des rond dans l’O, a pequena e simpática editora que levou o álbum à França, tem divulgado o seu Photo de la Favela como o último grande lançamento da casa. E não é para menos.

André Diniz e Maurício Hora no lançamento na França

As resenhas de jornais e sites especializados só têm elogiado a maneira como a história é contada – a partir de um testemunho sem estereótipos, em primeira pessoa – e principalmente a originalidade da arte do André Diniz. Muito diferente do que se costuma ver nos quadrinhos europeus, o estilo em preto e branco e em alto-contraste tem entusiasmado os leitores franceses.

Mas o sucesso na França já era de se esperar. Morro da favela reúne três grandes paixões francesas: a autoficção, os quadrinhos e a fotografia. Este livro conta, em primeira pessoa, a história de Maurício Hora, um fotógrafo que cresceu no Morro da Providência, RJ. Rodeado por todos os problemas de uma favela – a violência, o tráfico, o descaso político e a corrupção – Maurício encontrou seu caminho quando recebeu de presente uma câmera fotográfica. Foi por meio das lentes que sua comunidade se ressignificou a seus olhos. E justamente por ter sido feito a partir de um testemunho real de alguém que aprendeu a ver aquilo que normalmente não se vê, Morro da favela não é apenas mais uma obra que explora a violência e os estereótipos da favela.

Sobre essa boa recepção na Europa e outras questões, fizemos, por e-mail, uma pequena entrevista com André Diniz quando ele ainda estava na sua turnê europeia:

Como aconteceu o contato com as editoras estrangeiras? Quero dizer, houve algum mediador, de que forma essas editoras entraram em contato com esse álbum?

A primeira delas se deu da forma mais curiosa possível. O amigo e quadrinhista Ricardo Manhães, que já produz há anos para a França, me deu a dica da Des Ronds Dans l’O e eu entrei em contato com eles. Foi bem na cara-de-pau mesmo, pois eu não sabia uma palavra de francês (comecei a estudar só depois). Daí, escrevi em português com frases simples e diretas e traduzi para o francês via Google Translator!… Não é que funcionou? Acho que era pra ser mesmo, pois eu seria o primeiro a desaconselhar alguém a contatar uma editora dessa forma tão mambembe. Já a Self Made Hero, a editora inglesa, foi contatada pela Maria Clara, da Barba Negra.

Pela sua experiência agora na viagem de lançamento, o que sentiu a respeito do interesse dos estrangeiros pelos quadrinhos brasileiros? Ou, mais especificamente, pelo seu quadrinho, por este quadrinho específico?

Fui muitíssimo bem recebido, mais até do que eu esperava, confesso. Recebi, inclusive, convite para ilustrar para uma outra editora e já há conversas para outros títulos de HQs. Desde o começo, me pairava uma dúvida: o que as editoras e os leitores mais estavam interessados? No meu trabalho ou em uma HQ, qualquer que fosse, falando sobre favela? O tema desperta muito o interesse dos europeus, não dá pra negar. Mas o que constatei aqui foi que estão, claro, interessados no tema, mas o interesse maior é pelo trabalho de artistas que tragam novos sopros e novas experiências ao cenário europeu e isso é fantástico. Estou em negociação sobre novas HQs que não repetem o tema da favela nem trazem nada de “exótico” aos olhos dos europeus. Era o novo passo que eu queria dar e volto ao Brasil muito gratificado com isso.

Morro da Favela, por razões de localização de tempo e espaço do protagonista, aborda alguns temas que estão num certo universo imaginário a respeito do Brasil: Rio de Janeiro, violência, comunidade carente, tráfico… Acha possível que o cenário onde a história se passa também contribuiu para o interesse estrangeiro na obra?
Xi, acabei respondendo isso na pergunta anterior… Tem problema? :)


Susan Sontag diz que “Ninguém jamais descobriu a feiúra por meio de fotos. Mas muitos, por meio de fotos, descobriram a beleza”. Eu me lembrei muito dessa frase enquanto lia seu livro, não só pela óbvia relação com a redenção do Maurício, ou na passagem em que o menino se alegra ao ver seu barraco numa imagem ampliada na escola, mas também imaginando o seu trabalho de estetização dos cenários. Você visitou a favela enquanto escrevia/desenhava? Pode comentar um pouco essa experiência de recorte da realidade?

Sim, subi na Providência várias vezes com o Maurício. Foi uma experiência incrível, pois finalmente eu tinha a minha visão própria, sem o filtro da mídia. Tive muitas surpresas lá, algumas para pior e várias para melhor. Não quero dourar a pílula de forma alguma, isso não ajudaria em nada. É duríssima a vida de quem nasce e cresce na favela. Mas hoje eu entendo se alguém me dissesse que jamais se mudaria de lá, mesmo que tivesse condições.
No início, a ideia era retratar com fidelidade, ainda que no meu traço bem estilizado, cada ponto da favela. Mas depois, concluí que isso seria papel das fotos do Maurício, que viriam no livro também. Querer retratar casas e trechos específicos no desenho só desviariam a atenção do leitor e a minha própria contra essa história fantástica que o Maurício tem a contar.


Entrevista com Rafael Campos Rocha

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Entrevistamos por e-mail nosso convidado de sábado, Rafael Campos Rocha, que nos explica um pouco mais sobre sua personagem gostosa Deus.

Lembrando que o bate-papo de sábado começa às 17h, na Itiban. Venha e alimente-se!

Onde Deus, essa gostosa, descansou no sétimo dia?

Na novela que escrevi pra Cia. das Letras, [descansou] na cama dela, em seu apartamento no bairro de Pompeia. Nas tiras ela quase nunca trabalha, e nos domingos menos ainda. O Universo acabou sendo uma máquina bem azeitada e Deus deixa sempre para resolver suas pendências na segunda-feira. Engraçado você perguntar isso, porque estou escrevendo um livro de Deus somente aos domingos, em que Ela tenta descansar mas alguma coisa sempre atrapalha, obrigando-a a destruir civilizações, espécies e mesmo planetas inteiros.

Se Deus é onisciente, ela sabe que é gostosa?

Claro! Ela é vaidosa a ponto de jamais sair na foto fazendo biquinho, botando o dedo na boca ou empinando a bundinha. Ela é uma gostosa integral. Ou seja, é pra chupar, morder e comer, não pra ficar olhando nem fazendo charminho ou seduzindo, essas bobagens.

Religião é um tema que tende a ofender demais as pessoas, por ser dogmático. É uma preocupação sua não ofender com essa personagem?

A minha ideia era justamente ofender e magoar as pessoas intolerantes, dogmáticas e hipócritas. Tudo o que eu faço, faço para chatear alguém.

O cristianismo diz que no Apocalipse, Jesus, o filho de Deus, voltará para julgar os vivos e os mortos. Se Deus é uma mulata fogosa, como vai ser esse fim do mundo? E qual é a de Jesus?

Tenho um gibi sobre isso. Chama “Gaysus, só o amor salva”. Está no blog. Nele, Jesus é um homossexual grandalhão e machão, que bota ordem na covardia e injustiça das sociedades paternalistas. O fim do mundo esteve próximo várias vezes nas tiras diárias. Quando a prefeitura de São Paulo pensou em instituir o “dia do hétero”, ficamos por um fio. No segundo livo que estou fazendo, Ela destrói a vida, que não é, nem de perto, uma de suas criações preferidas. Você acha que Ela parece mulata? Eu imagino ela sempre negra retinta.

Os 10 mandamentos da Bíblia ainda valem para o deus de suas histórias?

Olha, tem várias coisas lá que Ela acha válido. As exceções previsíveis: aquele negócio de castidade, de amar a Deus sobre todas as coisas e de ter um royalty sobre o nome que não pode nem usar em vão. Parece coisa da FIFA. Ela acha que botar lei para coibir pensamento também não funciona, e que a Alma é uma invenção do cristianismo para aprisionar o Corpo.


Entrevista com Roger Cruz

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Sábado tem lançamento na Itiban, com Roger Cruz e Rafael Albuquerque. Para hoje, uma pequena, mas esclarecedora entrevista com o Roger:

Max, personagem de Xampu – arte de Roger Cruz

Xampu – Lovely Losers retrata uma São Paulo dos anos 1980. Quanto cada um daqueles personagens é você ou alguém que conheceu? Alguma daquelas situações são coisas pelas quais passou?

Quase todos os personagens são composições de características de pessoas que conheci e de quem ouvi falar. Eles também têm um pouco de mim e de minha visão, mas tentei deixar os personagens livres para tomar decisões diferentes das minhas. Os leitores costumam achar que eu sou o Max, personagem que narra a primeira história. E talvez seja o personagem que tenha mais caraterísticas minhas. Mas a história se passar nos anos 1980 e na periferia é o que mais me coloca diretamente na história.

Quando poderemos ler a segunda parte de Xampu?

Antes de lançar o proximo livro do Xampu, vou lançar outro projeto chamado Gutigutz, uma hq de humor e ação. Trabalho com Gutigutz há bastante tempo e já tenho um livro pronto com 80 páginas, faltando apenas as cores. Talvez eu consiga lançá-lo no primeiro semestre do próximo ano e depois volto para o Xampu.

Você ainda sente satisfação em desenhar para as editoras norte-americanas?

Quando decidi finalizar Xampu, pedi afastamento por tempo indeterminado das minhas obrigações com a Marvel, onde era contratado para desenhar uma edição por mês. Mas o envolvimento com o Xampu, com o tema e estilo de desenho me fez perceber que não queria mais desenhar super-heróis regularmente. Então, para resumir uma longa história, pedi rescisão de contrato, eles se recusaram a me liberar e impuseram condições para a liberação que me vi forçado a aceitar e que me impediram de prestar qualquer serviço para  qualquer editora americana durante um ano.  Agora, após um ano, estou livre para fazer o que eu quiser e para quem eu quiser no mercado americano ou para qualquer mercado.

Ainda gosto de desenhar super-heróis, mas não quero fazer 22 páginas por mês de quadrinhos de super-heróis. Gosto de desenhar o personagem que me dá vontade e de fazer da maneira que eu preferir no momento e apenas pelo prazer de fazer. Com aquarela, guache, nanquim, lápis, etc. Sou muito grato aos editores e fãs que me proporcionaram uma ótima carreira de quase 20 anos no mercado americano mas não consigo mais manter o ritmo de antes. Tenho outros planos e muitos deles nem mesmo envolvem o desenho.

Você trabalharia com mais alguém em um trabalho de pegada autoral, seja na arte ou no roteiro?

Estou trabalhando em parceria com alguns amigos, em projetos em que farei apenas os roteiros. Um deles já está bem adiantado, foi apresentado para uma editora e estamos conversando. Os outros ainda estão em fase de desenvolvimento. Escrever para outro artista desenhar é algo inédito para mim e estou gostando da experiência.

Por estar há tanto tempo no mercado de quadrinhos, você sente esse bom momento do mercado no Brasil que tanta gente defende?

Sou um cara extremamente mal-informado sobre esse assunto. Não participo de muitas conversas e nem penso muito a respeito. Mas gosto de fazer quadrinhos, de desenhar, botar as ideias no papel.
Parece mesmo um bom momento em um certo sentido. Tantos artistas produzindo, imprimindo, divulgando e vendendo por conta própria suas hqs. Vejo coisas muito boas sendo produzidas. Mas vai ser um momento melhor ainda quando estivermos pagando as contas fazendo hqs, como ocorre no mercado americano.

Quando eu comecei a fazer hqs, comecei fazendo quadrinhos autorais. Era movido apenas pela paixão pelos quadrinhos. Gosto de fazer hqs. Ainda tenho um pouco daquela paixão. Mas como optei por não mais fazer quadrinhos de super-heróis, preciso ter outras fontes de renda. Por exemplo, trabalho como ilustrador freelancer.

Assim, os projetos autorais sempre são feitos nas horas vagas, demoram para ficar prontos e não dão retorno financeiro. Mesmo assim, sigo fazendo hqs porque é o que gosto de fazer.

Conheça mais do trabalho do Roger Cruz no blog dele e no Flickr. O Gutigutz tem um blog exclusivo, assim como o Xampu.


Entrevista com Rafael Albuquerque

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Depois da ótima entrevista com Roger Cruz, é hora de ver o que o Rafael Albuquerque tem a  nos dizer. Lembrando que os dois estarão neste sábado na Itiban para bate-papo e autógrafos.

Como conheceu o Scott Snyder e como foi a criação de Vampiro Americano?

Por conta do projeto mesmo, através dos meus editores Mark Doyle e Will Dennis. O Scott tinha uma ideia geral do projeto (que eles chamam de pitch) e baseado nisso, desenvolvi o visual de tudo.

Stephen King trabalhou em histórias curtas ligadas a Vampiro Americano (que podem ser conferidas no encadernado). Foi legal ter o Stephen King trabalhando pra você?

Ele não trabalhou pra mim. Foi legal ter colaborado com ele.

Já há um final em vista para Vampiro Americano?

Temos uma ideia muito boa para o final, mas ainda não temos definido quando isso vai acontecer. Temos muitas outras histórias para contar ainda.

Como foi esse desafio da história seriado que você viveu na primeira parte de Tune 8?  Vai ser publicado lá fora também?

Foi bacana. Originalmente, iria fazer a historia do IG com um escritor. Acabou não rolando e foi a oportunidade de tentar algo sozinho. Foi assustador também, mas acabei pegando o jeito.

Estou negociando com editoras gringas a publicação do material por lá, que deve ser reeditado e estendido. Até ter isso definido, não tenho muita ideia de quantas partes vou fazer de Tune 8.

Quando terminar Tune 8, pretende investir em outra série autoral?

Tenho diversas outras ideias para fazer, e alguns projetos já em andamento, mas nada disso deve ver a luz do dia tão cedo. O foco agora é Vampiro Americano e Tune 8.

Mais do trabalho do Rafael pode ser conferido no seu site e e no Deviant Art. Aqui um podcast do pessoal do Pipoca & Nanquim sobre Vampiro Americano e as resenhas de Mondo Urbano e Tune 8 – parte 1.


Diego Gerlach e Pedro Franz

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Conversamos com Diego Gerlach e Pedro Franz por e-mail, para dar uma preparada no terreno do bate-papo de amanhã, na feira do livro & semana literária, às 17h45. Eles falarão sobre Ensaio do vazio (com presença de Carlos Henrique Schroeder) e dois lançamentos individuais. A minientrevista de hoje é sobre esse último material.

Pedro Franz vai lançar o terceiro e último volume de Promessas de amor a desconhecidos enquanto espero o fim do mundo – que está disponível para leitura online.

Qual a sensação ao final de um projeto como o Promessas de amor a desconhecidos enquanto espero o fim do mundo, que durou anos? Rola um vazio pelo tamanho do envolvimento, sensação de dever cumprido, foco total no próximo projeto, vontade de dar um tempo…

PEDRO FRANZ -  Difícil de responder com certeza, mas acho que foi uma mistura de tudo isso. Sendo um projeto muito longo, que levou muito tempo pra ser feito, foi certamente um alívio ter terminado. Havia me prometido parar um tempo após terminar Promessas…, mas enquanto fazia, fui me envolvendo em meus projetos seguintes. O próprio Ensaio do vazio aconteceu enquanto terminava os últimos capítulos de Promessas…. E escrevi um roteiro novo para uma HQ (que já está desenhada e deve sair ainda esse mês), além de outros dois projetos maiores que também surgiram enquanto fazia o Promessas….  Ao mesmo tempo, quando terminei, ainda havia toda a parte de buscar o financiamento para a publicação (que envolveu vender, através de leilões pela internet, todos os originais das páginas da HQ) e da própria impressão da revista (que incluiu definir o projeto gráfico, cuidar da revisão, ver a parte de gráfica). Acho que a sensação de dever cumprido só vai se formalizar quando chegar da gráfica a revista impressa.

A evolução de seu traço e do uso das cores é bastante perceptível no Promessas…. Você gosta de o seu trabalho marcar essa mudança ou você não vê essa transformação?

PEDRO FRANZ - Foi algo que em nenhum momento eu quis esconder e, inclusive, me interessava evidenciar essa mudança, que não é só no traço, na maneira de desenhar, mas também na própria narrativa, no jeito de contar a história. O formato das publicações impressas (por exemplo, o fato de o segundo volume serem páginas soltas dentro de um envelope) e os materiais que usei para desenhar a HQ foram parte disso. Mesmo já tendo desde o início uma vontade de fazer algo assim, de que cada capítulo tivesse uma estrutura gráfica e narrativa diferentes, as escolhas surgiram durante processo, enquanto desenvolvia a HQ.

Há uma relação com o movimento Occupy, a primavera árabe e outros movimentos sociais em Promessas…. Só que você colocou isso na sua HQ antes de acontecer no mundo. Você vê isso também?

PEDRO FRANZ - Acho que tudo isso já vinha acontecendo pelo mundo e 2011 foi uma espécie de auge disso tudo. Mas já vinham rolando coisas grandes em Atenas, Seattle, Gênova e até aqui em Florianópolis. Todos esses focos de resistência que vinham acontecendo por aí e me interessava falar sobre isso. Mas com certeza aconteceu algo grande em 2011 e foi interessante estar fazendo Promessas… enquanto tudo isso aconteceu.

Diego Gerlach vai lançar Alvoroço, HQ que faz parte de um universo chamado Pinacoderal inventado pelo próprio autor, que é uma doideira só.

Alvoroço é uma HQ que faz parte de um universo seu chamado Pinacoderal. Como surgiu essa ideia? Quais outras HQs suas faz parte desse mundo?

DIEGO GERLACH - Pinacoderal surgiu como uma série sci-fi desconjuntada e apocalíptica, inspirada na ‘abordagem obscurantista’ de criação adotada por Moebius na elaboração de A Garagem Hermética. Com o tempo me ocupei com outros projetos e as ideias ficaram fermentando na minha cabeça por um bom tempo, bem mais do que deveria pra criar uma história ‘automática’. De modo que esse universo se expandiu, agregou personagens e se consolidou na minha cabeça. Agora sinto que tenho inúmeras linhas narrativas e pra explorar dentro desse conjunto de regras.

Alvoroço é estrelada pelo Boy Rochedo (a.k.a. “O Espírito de tudo que é massa”), um dos personagens de maior destaque no universo de Pinacoderal. Nessa história em particular, o que temos é uma tentativa de criar uma atmosfera que seria algo próximo de ROMANCE nessa cidade medonha.

A maioria das histórias até aqui apareceu de maneira espalhada: na Prego # 4 foi a primeira história impressa do Boy, Antigo Testamento Style; a expo Uive Quando Se Sentir Eterno (uma HQ produzida pra ser lida no espaço de uma galeria; os zines xerocados Pinacoderal # 1-4 (que somam quase 100 páginas da saga e vão ser compilados num volume único mais adiante); O Plexo Holístico; os zines Imploda Quando Se Sentir Lombrado e Jamais Vu; a história Deja Vu, que vai sair no Gibi Gibi #2; Pala Licantrópica da Vibe da Santíssima, que vai sair na Samba # 3; e Estouro de Manada, uma ‘graphic novel xerocada’ que está sendo lançada pelo meu selo, Vibe Tronxa Comix.

Qual é da Pinacoderal?

DIEGO GERLACH – Algumas ideias gerais a respeito da história. Pinacoderal é uma cidade num futuro distante, sombrio e muito quente, onde vivem humanos normais e seres chamados de ‘novos humanos’ ou ‘neo-humanos’, que apresentam características que os distinguem dos demais. Há uma grande paranoia a respeito de quem é ou não humano, e a própria realidade vem sendo questionada por conta desses novos seres. Suspeita-se que o ‘campo morfogenético’ do ser humano esteja em processo de transformação rápida, e muitos humanos tem por objetivo tornar-se algo mais. Seitas e coligações sinistras exploram o niilismo cristalino dos habitantes, e no meio disso acontecem LOUCAS PERIPÉCIAS.

Alguns personagens: O Boy Rochedo, um ogro tabagista crivado de pústulas, um ‘agente independente’ detentor de um ‘dom’ misterioso e de uma curioza marca; Lâmina Imperial, um lobisomem telecinético, ex-comediante, com sérios problemas de socialização; Verloq, um pixador mascarado, que patrulha de modo violento certos distritos da cidade; Dr. Jeová, um palestrante dotado de grande poder sobre o verbo, líder do ‘Comitê Aural Central’; Mestre Canis, um ser capaz de profanar os sonhos, fruto da fusão inexplicável de um cineasta maldito com seu amante canino; Caranguejêra, um punk com um apetite insaciável por drogas e carnificina, envolvido num affair destrutivo com uma artrópode etc…

Até onde imagina que o Pinacoderal vai? É uma “coisa” que vai estar em toda sua obra?

DIEGO GERLACH - Não faço ideia. Da maneira que Pinacoderal foi concebida, pode abrigar histórias de qualquer gênero costuradas numa narrativa maior. Confesso que estou muito empolgado.

Para mais ideias com os dois (e Carlos Henrique Schroeder) é só chegar na Feira do livro e Semana literária amanhã, 17h45, na praça Santos Andrade.


Ensaio de entrevista

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Hoje é o lançamento de Ensaio do vazio, Alvoroço e Promessas de amor a desconhecidos enquanto espero o fim do mundo – vol. 3, com Carlos Henrique Schroeder, Diego Gerlach e Pedro Franz na Semana Literária e Feira do Livro. Ontem postamos três respostas de Franz e Gerlach sobre suas obras.

Hoje algumas considerações dos dois e de Schroeder sobre a HQ Ensaio do vazio.

Carlos Henrique Schroeder é autor de diversos romances e livros de contos e teve a ideia de transformar um romance seu em uma história em quadrinhos.

De onde surgiu a ideia de transformar o livro Ensaio do vazio em uma HQ? Você, Carlos, já gostava das histórias em quadrinhos?

CARLOS HENRIQUE SCHROEDER - Eu sempre fui leitor de quadrinhos, quando era garoto tinha as coleções completas de X-Men, Hulk e Homem Aranha. Era fãzão do Demolidor, que é um personagem extraordinário, complexo, cheio de dilemas. Primeiro fui leitor de quadrinhos, depois caí na literatura. Continuo acompanhando, principalmente novelas gráficas, Asterios Polyp, Daytripper, tem uma porrada de mangás malucos (Inoue, os Tamaki, o Yokoyama), as coisas do Mutarelli, que além de tudo é um cara muito bacana.

Como chegou a esses cinco nomes para Ensaio do vazio?

CARLOS HENRIQUE SCHROEDER - Inicialmente o Pedro Franz faria a adaptação sozinho, mas ele sugeriu outros quatro nomes e o pessoal da editora topou. Fizeram um sorteio para definir quem ficaria com qual capítulo, e começaram a trabalhar, com total liberdade, não houve nenhum corte ou intervenção da editora, eu também não intervim em nada, pois meu trabalho acabou quando escrevi o livro, quadrinhos são outra linguagem, que não domino.

Qual foi o impacto de ver a leitura de cada um desses artistas para o seu livro?

CARLOS HENRIQUE SCHROEDER - Eu achei muito legal, principalmente que o resultado ficou bem experimental, cada quadrinista num capítulo, e no último capítulo há uma quebra narrativa, pois a Leya trabalha com gravuras, tudo isto faz com que o projeto se aproxime de uma instalação gráfica, ao invés de uma novela gráfica. Uma coisa mais aberta.

Você vê diferença entre uma adaptação nos moldes de Ensaio do Vazio e de uma história original para HQ? Pensa em escrever um roteiro de quadrinhos?

CARLOS HENRIQUE SCHROEDER - Numa adaptação você precisa seguir alguns eixos narrativos, existem alguns compromissos, e há também a mutação da linguagem. Num roteiro original você parte do zero. Eu tenho algumas ideias de roteiro, algumas coisas rascunhadas, penso em fazer algumas parcerias com alguns quadrinistas no futuro. Eu gostaria muito de saber desenhar, meu filho de dois anos desenha melhor do que eu, quem sabe ele vire um quadrinista, terá meu incentivo, hehe.

 

Diego Gerlach e Pedro Franz são responsáveis pelos dois primeiros capítulos do álbum.

Como aconteceu o convite para trabalhar em Ensaio do vazio? Já conheciam a literatura do Schroeder?

PEDRO FRANZ - Já conhecia o trabalho do Carlos e inclusive numa edição da revista literária LADO 7, saiu um conto dele e uma HQ minha. Foi o próprio Carlos entrou em contato comigo para fazer o convite para adaptar o livro. A ideia original era que eu adaptasse sozinho o livro, mas por ser um caso bastante único de adaptação para os quadrinhos de um autor contemporâneo e a própria narrativa do livro ser bastante fragmentada e não linear, sugeri que fizéssemos o trabalho em conjunto com outros quatro artistas: cada um cuidaria de um capítulo. Apresentei então o trabalho do Diego Gerlach, Manuel Depetris, Berliac e Leya Mira Brander para a editora e eles entenderam a proposta. Fizeram então o convite aos artistas, que toparam, e fomos em frente.

DIEGO GERLACH - A proposta inicial era que o Franz fizesse a adaptação mas ele teve a ideia de dividir em um capítulo por quadrinista. Foi aí que me foi feito o convite, e aos outros também, e foi o que mais empolgou logo de cara, a natureza fragmentada que o resultado necessariamente carregaria. Não conhecia o trabalho do Carlos antes de trabalhar no livro.

Vocês dois investem em um trabalho bastante pessoal, em que roteirizam e desenham tudo. Como foi trabalhar com uma equipe tão grande?

PEDRO FRANZ - Apesar da equipe grande, o trabalho foi bastante solitário. Decidimos quem cuidaria de cada capítulo através de um sorteio. A editora e o Carlos nos deixaram completamente livres desde o começo para fazermos como queríamos, sem interferências em nosso trabalho. Nossas únicas restrições eram o formato (20x28cm), e o número de páginas (que poderia ser entre 15 e 30 páginas). Inclusive, como se vê no resultado, poderíamos trabalhar tanto em PB quanto colorido. Essa liberdade possibilitou cada um trabalhar como queria, adaptar o texto original da forma que melhor achava.  A grande diferença, pra mim, com relação a minhas outras HQs, foi criar a partir de um texto que já existia. Encontrar a maneira de transformar aquela história escrita por outra pessoa em algo meu, mas mantendo a voz do texto. Acho que aí esteve a maior dificuldade (e ao mesmo tempo a parte mais interessante como desafio) no meu processo de adaptação.

DIEGO GERLACH - Apesar de ser uma obra conjunta, cada um produziu em isolamento com uma série de diretrizes mínimas (principalmente o aspecto dos personagens, que associamos ao de atores. Berliac terminou bem antes de mim e me mandou a parte dele, e acho que acabou influenciando meu trabalho. Já que ele estava produzindo na Argentina, ajudei com algumas referências de ambientação da história. 

Os cinco artistas conversaram entre si durante o processo?

PEDRO FRANZ - Conversamos por email, principalmente para definir a aparência dos personagens principais, pois nisso era importante ter uma continuidade de um capítulo ao outro. Além disso, algumas trocas de ideias sobre o processo, ou sobre alguma interpretação de algo e alguns enviaram o que iam fazendo. Mas foi um processo bastante solitário. Democrático, anárquico e solitário.

DIEGO GERLACH - Quase nada, só mais próximo da reta final. Rolou, da minha parte, um certo estado de sítio. “Será que vou ser o último a terminar? Será que o minha parte vai ser a única parte de merda?!! :~~” Mas no final fiquei mais satisfeito com o resultado conjunto do que poderia ter previsto.

Para mais perguntas aos autores, vá à praça Santos Andrade, em Curitiba, às 17h45 e assista ao (e participe do) bate-papo com mediação de Yuri Al’Hanati.


Acabou a Gibicon

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Love Hurts, do Murilo Martins, cativou os Stormtroopers

No domingo dia 28 acabou o maior evento de quadrinhos do Sul do Brasil, a Gibicon. Muita gente legal passou por aqui e curtiu um monte os convidados, palestras, bate-papos, filmes e muita coisa legal.

As impressões sobre o evento já começam a aparecer nos blogs e sites por aí (O Érico Assis comentou no Omelete, o Poderoso Porco escreveu no Melhores do Mundo e o Tex Willer Blog colocou algumas imagens dos autores da Bonelli em Curitiba. Confira!).

Nós conversamos rapidamente com Fabrizio Andriani, organizador da Gibicon, e com José Aguiar, curador do evento.

Qual foi sua avaliação da Gibicon 1?

Fabrizio – Foi muito boa. Apesar de a data (eleições) e o clima terem dificultado o acesso do público achamos que o resultado geral foi muito bom. A organização foi ótima e os convidados nos cobriram de elogios. Sabemos que temos que afinar muitas coisas, mas cada evento nos apresenta novos caminhos a serem trilhados, e estamos somente na segunda edição (sendo que a primeira foi a edição zero).

Qual foi a resposta do público ligado à quadrinhos e do público geral?

Fabrizio -A resposta do público dos quadrinhos foi ótima, mas senti muita falta da uma participação maior do público infantil. Teremos que corrigir isso nas próximas edições.

Com duas Gibicons de experiência, o que você já pensa em mudar ou fortalecer para a próxima edição?

Fabrizio -Certamente fortalecer a parte de apoios e patrocínios com uma lei de incentivo federal. Melhorar ainda mais as parcerias e estabelecer a programação com muito mais antecedência, pois ela se fechou esse ano tarde demais e acabou prejudicando alguns aspectos do evento. Na curadoria, vamos cuidar mais dos conteúdos das mesas interagindo de maneira mais intensa com os convidados.

Por que a opção de o evento ser bianual?

Fabrizio -Bianual por dois motivos principais: 1) Mais tempo para organizar todo o evento; e 2) Intercalar com o FIQ de Belo Horizonte.

O que se está sendo pensado para a Gibicon 2?

Fabrizio -Muita coisas, mas ainda embrionárias. Seguramente, na próxima edição não poderá faltar um convidado (ou mais de um) americano. Queremos também fortalecer a presença dos quadrinhos infantis com algum nome de peso como Mauricio de Sousa ou Ziraldo. Temos ainda muitas outras ideias, mas essas iremos divulgar futuramente.

 

 

O evento aconteceu conforme esperava?

José Aguiar - Sim, como esperávamos. A Gibicon cresceu de todas as formas. Foi um gigantismo necessário e desafiador que certamente marcou a vida de todos: artistas e público. Nossa ideia era mostrar o potencial da cidade em adotar os quadrinhos, preenchendo seus espaços culturais com as HQs de forma mais completa ainda que em 2011. Desta vez estávamos mais preparados para o desafio, pois já tínhamos a experiência do evento “piloto”. Curitiba enfim se tornou oficialmente uma capital dos quadrinhos brasileiros e mundiais depois dessa Gibicon. E, para nosso orgulho, a relevância histórica que nossa cidade sempre teve no meio enfim foi catalogada, registrada e oficializada para todo o país, que não costuma olhar muito para o que acontece de relevante fora do eixo. É claro que aconteceram ruídos como convidados que não compareceram, problemas em alguns espaços e até o tempo ruim dos primeiros dias. Mas isso é algo de se esperar num evento dessas proporções. Agora é hora de deixar a poeira baixar e avaliar esse formato de evento, seus prós e contras para fazer da edição de 2014 impecável.

Você foi o curador da Gibicon. Como foi esse trabalho?

José Aguiar - Como curador eu respondi pela seleção dos convidados e pelos temas das mesas de debates, oficinas e palestras. Dividi parte das curadorias expositivas com o Fabrizio (que acumulou a coordenação geral) pois, como deve imaginar, o volume de trabalho foi enorme. Estamos recebendo inúmeros elogios pela qualidade das mostras como um todo. Como esperado, a mostra de Liberatore e dos Quadrinhos Russos foram arrasadoras. Tesouros da Gibiteca, Mundo de Haarman (de Isabel Kreitz) também estão elogiadíssimas. Mas especialmente Tesouros da Grafipar sensibilizou a mídia pelo resgate histórico inédito de um dos mais importantes e ignorados capítulos da história e editorial brasileira. Um aviso importante a todos é que as exposições ficam abertas a público até 25 de novembro. Não há porque perder essa oportunidade.

Já existem ideias para a segunda edição do evento?

José Aguiar - Assim como esta edição herdou ideias que não foram possíveis de realizar no ano passado, pretendemos em 2014 aprofundar mais o quadrinho nacional e também a relação com os quadrinhos do oriente.

Agora, o seu ponto de vista do autor: como foi o lançamento de Folheteen -Tiras pra todo Lado na Gibicon?

José Aguiar - Como autor era “de honra” ter a oportunidade de lançar um quadrinho local, ainda mais o meu quadrinho, durante a Gibicon. Ainda mais com o aval do Fernando Gonsales, que escreveu o prefácio. Fiquei muito contente, pois as pessoas reagiram muito bem ao formato do livro. Pude apresentá-lo a muita gente nova. Especialmente no sábado, autografei até cansar. Foi certamente a experiência mais intensa nesse sentido que tive até hoje. Além do mais, ao promover o concurso de roteiro para a tira, em parceria com o jornal Gazeta do Povo, consegui divulgar o livro ao mesmo tempo em que abri espaço para novos talentos se manifestarem. Eu não poderia estar mais contente principalmente porque, através desse lançamento, a Quadrinhofilia se torna uma pequena editora independente. Um selo para lançar meus projetos autorais. Pode esperar três para o próximo ano. Um deles será o álbum de luxo Folheteen – Direto ao Ponto.

Qual sua relação com a Grafipar, a editora homenageada da Gibicon 1?

José Aguiar - Minha relação começou junto com a minha chegada na Gibiteca, em 1990. Lá fui aluno de dois artistas que fizeram parte da editora: Paulo Nery e Claudio Seto, que foi um dos primeiros a me publicar. Mas eu só fui saber da relevância da Grafipar anos depois. Quando Fabrizio Andriani e eu realizamos a Gibicon 0, uma das exposições foi Seto – Samurai de Curitiba, em homenagem a meu professor. A partir daí veio a ideia de aprofundar essa história e revelar o passado da Grafipar. Através da Quadrinhofilia, minha empresa, inscrevi o projeto no edital de Ocupação de Espaços da Fundação Cultural de Curitiba. Assim me tornei coordenador e curador desse projeto, que teve produção da minha sócia, Fernanda Baukat. Esse projeto nos trouxe muitas satisfações, pois pudemos além da exposição, deixar um grande retorno para a cidade. Realizamos um catálogo distribuído gratuitamente, conseguimos doações de revistas originais daquela época para o acervo da Gibiteca e também 40 painéis expositivos que darão autonomia para a Gibiteca realizar suas próprias exposições daqui por diante. Também recebemos nas atividades da Grafipar os alunos carentes das Regionais da Fundação Cultural, o que nos deu muita satisfação. Mas o mais importante foi promover o emocionante reencontro de alguns dos grandes artistas que escreveram e desenharam essa história. Se pudéssemos teríamos reunidos todos. Mas mesmo assim foram quatro dias antológicos!

A Gibicon é um evento que se forma ao redor da Gibiteca de Curitiba. Qual é sua relação com a Gibiteca?

José Aguiar - Minha relação com esse espaço é muito pessoal. Me tornei aluno em 1991, depois professor até 2010. Lá fiz amigos incríveis, participei de intensas atividades culturais e me tornei autor de quadrinhos graças a somatória dessas experiências todas. Ao ajudar a realizar a Gibicon estou devolvendo à ela e à cidade os presentes que recebi durante mais da metade da minha vida. Enfim, não estou exagerando ao dizer que a Gibiteca é muito maior do que aparenta.



Gustavo Duarte invade a Itiban

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Sábado receberemos Gustavo Duarte para o lançamento de Monstros!, com o tradicional bate-papo (desta vez, mediado por Lielson Zeni) e, é claro, sessão de autógrafos.

Para já aquecermos essa conversa, fizemos uma minientrevista por email com o Gustavo:

Gustavo Duarte durante o bate-papo de 2011 na Itiban, no lançamento de Birds e de Diburros, de Marcelo Braga

Monstros! conta a história de três criaturas gigantescas que invadem Santos. Depois dos monstros destruírem tantas vezes Tóquio e Nova York, o que os levou até o litoral paulista? Queriam ver o Neymar em ação?
Gustavo Duarte - Foi pela minha relação com a cidade. Gosto bastante de Santos. Fui muito para lá com os meus pais durante toda a minha infância. Achei que seria legal ver a história acontecendo num cenário familiar.

Como foi escolher o visual dos monstros? Quais foram suas referências?
Gustavo Duarte - Já tinha uma ideia básica na cabeça quando escrevi o roteiro. Daí rabisquei bastante. As influências foram mais ou menos essas:
Monstro 1: Algo clássico como um grande lagarto. Uma homenagem clara ao Godzilla
Monstro 2: Um polvo mesmo, só que gigante. Sempre vi o polvo como um monstro que existe.
Monstro 3: Uma tartaruga. Aí tem um pouco (muito) da Gamera e, é claro, das Tartarugas Ninjas.

Como foi a publicar por uma editora, a Companhia das Letras, já que seus trabalhos anteriores (Có!, Táxi e Birds) tinham saído de modo independente?
Gustavo Duarte - Foi e tem sido bem bacana. O processo de produção foi quase o mesmo de sempre. Pude participar de todas as etapas. Aprendi e estou aprendendo muito com eles. Principalmente com a equipe de produção gráfica. Eles foram espetaculares e são os maiores responsáveis pela qualidade da impressão e acabamento do livro.

Gustavo Duarte autografa Birds após bate-papo na Itiban, em 2011

Como foi o lançamento do seu material nos EUA? O público de lá gosta do tipo humor que você faz?
Gustavo Duarte - Foi bem bacana. Tanto na NYCC (New York Comic Con) quanto na Bergen Street Comics. As respostas têm sido boas. Tanto diretamente do público, quanto das livrarias de lá. Acredito que estão gostando, sim.

Todas suas HQs são sem texto. Você gosta do cinema mudo e das piadas de “corpo”, tipo Buster Keaton e Chaplin?
Gustavo Duarte - Não sou um fanático pelo gênero, mas gosto, sim. Mais do Buster Keaton do que do Chaplin. Mas gosto mesmo é dos 3 Patetas.

Você é chargista e caricaturista, e por muito tempo trabalhou em jornal diário. Tem interesse em fazer uma compilação desse material e publicar?
Gustavo Duarte - Não sei. Penso em editar um livro com bons desenhos desta fase. Não necessariamente charges ou caricaturas. Fiz muitas ilustrações que gostei para colunas que tenho impressão de que ninguém nunca viu. Por isso tenho vontade de fazer um livro com esses desenhos. Mas com as charges acho que não. Não acho que teria muita gente interessada em ver.

Não esqueça: sábado, a partir da 17 horas, na Itiban, tem mais troca de ideias com o Gustavo Duarte!


Entrevista com Adão Iturrusgarai

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Conversamos com o nosso convidado de quinta-feira por email, numa pequena prévia do que vai acontecer na Itiban no dia 20. Fala, Adão:

Adão Iturrusgarai, por Fernanda Chemale

Adão Iturrusgarai, por Fernanda Chemale

1) Você sempre desenhou humor?

ADÃO – Eu era aquele tipo de criança que desenhava um pouco para mim e outro pouco para encher o saco dos outros. Desenhava em todos os lugares. Nas paredes, nos cadernos, em qualquer superfície desenhável ou não desenhável.

2) O que te enche mais o saco: o politicamente correto ou politicamente incorreto ou inpoliticamente ex-correto?

ADÃO - Como o ser humano não foi feito para conviver com os outros, foram criadas essas regras chatas, infelizmente. Mas eu não levo isso muito a sério. Quando faço uma piada, ela sai espontânea, sem travas. Eu já quis ofender mais, mas agora virei um homem sério, re re.

Cartum do Adão

3) Nos últimos tempos, saíram várias HQs autobiográficas no Brasil, tanto gringas quanto nacionais. Mas a sua é uma das poucas de humor. Você acha que esse povo se leva muito a sério?

ADÃO - Eu não me levo a sério. Bom, me levo. Pelo menos quando vou falar com meu gerente de banco, ou vou fazer uma consulta médica. Pensando bem, não me levo a sério nem nesse tipo de lugar. Pior que gente que se leva a sério é gente que “se acha”.

4) Quer fazer uma pergunta pra você mesmo responder?

ADÃO - Adão, depois de tantos anos de carreira, você gosta de desenhar?

ADÃO - Sim… e muito. É um dos momentos mais sublimes.

5) O Benett diz na história “homenagem” que fez em Momentos Brilhantes da Minha Vida Ridícula que só há dois assuntos com o Adão: cu e coca. Você acha esse um bom mote pruma série em quadrinhos?

O Benett estereotipou-me. Eu gosto também de tomar urina pela manhã.

Tira do Adão

6) Existe algum tipo de situação pela qual apssou e que você tem vergonha de colocar nessas séries autobiográficas?

Claro, mas não vou contar aqui pelo mesmo motivo…

7) Você concorda que você era uma espécie de Robin de Los 3 amigos? Foi duro pra você?

Sempre me senti meio de fora. Normal… Eu entrei meio no final, quando Los 3 Amigos já estavam demibombando… Peraí, o Robin era o Laertón.

8) Essa transição de uma vida inconsequente, cheio de drogas e orgias, para de um pai de família que mora fora do Brasil, mudou seu tipo de humor?

Minha vida não era tão louca assim. Eu costumava entremear essas loucuras com tênis, natação e yoga. Não, não acho que mudou meu humor. O fato de ter filhos não me fez puxar o freio no trabalho. Não virei CUZÃO… ainda!

Para mais respostas, venha para o bate-papo na quinta-feira, a partir das 19h. E não esqueça de participar do concurso para ganhar um original do Adão.


Koostella!

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Koostella em Angoulême

Koostella em Angoulême (foto: Jerome Bihan)

Quinta-feira teremos o segundo Itiban Sessions do ano, com os quadrinistas Galvão Bertazzi, Pedro Franz e Koostella.

Para ir entrando no clima, conversamos rapidamente por email com eles. E o primeiro deles a foi o Koostella.

O cara mora na Europa, mas vem com alguma frequência ao Brasil visitar parentes, amigos e, é claro, lançar HQs. O Koostella vai lançar nada menos que cinco materiais no dia 21: Gefangene – Sem saída: Bônus track, Um morto que vive, Frotey Spectra e Grounfff!!! # 1 e #2. Para mais detalhes sobre os materiais e o restante da sua produção, visite o site da Crime da Mala Editions, editora e distribuidora do próprio artista.

Para conhecer uma obra dele, leia Cinzento, disponível de graça na internet.

1) Você mora na Europa atualmente. Como é esse trânsito entre cá e lá? De que forma esse movimento ajuda e atrapalha a suas HQs?
Koostella - Faz dez anos que vivo de lá pra cá. Acho que já me acostumei com esse trânsito. Atualmente eu moro em Basel, na Suíça, e isso me isola fisicamente do quadrinho brasileiro atual, fica mais complicado de trocar figurinhas com os camaradas quadrinistas daqui. Eu fico um pouco desaparecido, porém aprendi a trabalhar esse isolamento pra me recriar como desenhista. Eu acho que isso me fez perder alguns vícios do quadrinho nacional. Eu já não me preocupo mais em fazer piadas, ser engraçado ou até mesmo procurar parecer inteligente.

2) Qual é a diferença que vê entre publicar com uma editora e de maneira independente?
Koostella - Independente é mais rápido. Você não leva anos procurando alguém disposto a publicar suas coisas. E cada vez que você desenha algo, já sabe o que vai fazer com aquele material produzido. Isso empolga mais. Tá certo que a tiragem é pequena e a distribuição não é lá grande coisa. Mas meu objetivo não é ficar rico e nem ter meus quadrinhos sendo vendidos em super shopping centers. No blog da minha microeditora, a Crime da Mala Editions, eu deixo um itinerário, um plano que diz onde minha mala cheia de quadrinhos vai estar. E quem estiver interessado, vem ao encontro da mala e a gente conversa.

Koostella em Angoulême - França 2013

3) Quando surgiu a Crime da Mala Editions? Pretende publicar outros autores além de você mesmo?
Koostella - A Crime da Mala Editions surgiu no começo do ano passado, quando eu estava visitando o estande da Barba Negra no festival de quadrinhos de Angoulême, na França. Lá eu já comecei a vender meus quadrinhos independentes, só que ainda sem um selo sério. Uma madrugada, quando eu saía de um bar, em Basel, eu achei uma mala velha jogada na rua e acabei levando ela pra casa. Agora ela é meu estande ambulante. Apesar de admirar muito outros autores, eu ainda não sei se quero publicar coisas de outras pessoas. Talvez mais tarde. Isso tem que ser bem planejado.
4) Você tem produzido bastante material. Qual é o segredo pra tanta produção?
Koostella - O primeiro segredo é ter um objetivo final. Você saber para quê está desenhando. O segundo segredo é arrumar sua mesa de trabalho. Tirar toda aquela bagunça e aquele lixo que te impede de conseguir chegar até ela, sentar e desenhar alguma coisa que presta.

5) Você tem uma série com bandas que não existem. Qual é sua ligação com música? Tem outros projetos de HQ que envolvem a música?
Koostella - Eu sempre estive diretamente ligado à música alternativa, já tive diversas bandas e gosto de tirar sarro das peculiaridades toscas das bandas de rock, por isso criei uma série chamada de Enciclopédia do Rock Bizonho. Muitas bandas de rock são tão caricatas e têm uma convicção tão grande naquilo que fazem, que chega a ser engraçado. Quando eu tiver umas 100 tiras eu faço um livrinho.

Não se esqueça: dia 21, quinta-feira, 19h, Itiban: Koostella+Galvão+Pedro Franz+ autógrafo+bate-papo!


Galvão!!

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foto_galvao

Ontem já falamos com o Koostella, hoje é dia do Galvão:

Galvão Bertazzi, goiano que vive em Santa Catarina, publica suas tiras em diversos jornais do país. Pra publicar seu material, criou sua própria editora a Juarez & Donizete e vai lançar 3 álbuns na Itiban quinta-feira: Vida Besta, Conejos e As crônicas bizarras do Absurdyum.

1) Não são todos os criadores de tiras que conseguem fazer histórias longas em HQ. O que muda no seu processo entre o Vida Besta e o Absurdyum, por exemplo?

Galvão - Enquanto eu não fecho uma tira, eu não saio de cima do papel ou da frente do computador. É impossível! Tem tira que fica pronta num tapa, outras vezes o processo de desenho e finalização toma muito tempo. Aconteceu a mesma coisa com a história do Absurdyum. O que começou com um desenho de um caipira com as mãos em chamas, foi tomando forma e enquanto a coisa toda não estivesse fechada dentro da minha cabeça e nas minhas mãos, não conseguia parar.

Esse processo me tomou um pouco mais de um mês de trabalho, full time. Trabalhava mais de 15 horas por dia, desenhando feito louco e minha cabeça fervia, tomava litros de café, dormindo pouco e comendo rápido pra voltar praquilo. Foi intenso.

Com tira é bem comum começar sem saber ao certo o que vai acontecer ali e costumo desenhar tudo antes de conhecer a situação, qual é a história e o que os personagens estão pensando ou dizendo, por exemplo. Minha pretensão com uma tira é a de apresentar uma situação que é corriqueira ao leitor e elevá-la a um certo nível de absurdo. Foi mais ou menos assim com o Absurdyum. O desenho veio muito antes da narrativa e da alocação dos personagens e das suas ações dentro de um certo contexto que fosse coerente, mas de certa forma, absurdo.

Cara, vou ser sincero. Eu desenhei mais da metade das páginas do livro sem ter a mínima ideia do que estava acontecendo ali! Não sei se fica parecendo frenético demais isso tudo, mas foi assim. Pelo menos é assim que eu me lembro. Acho que isso reflete um pouco nas páginas do livro.

2) As crônicas bizarras do Absurdyum é uma trilogia. É isso mesmo? Como está o andamento do resto do material?

Galvão - É isso! Ainda faltam mais dois livros pra fechar toda a história. Nesse primeiro apresentei os personagens e o universo em que se inserem. Eu quis arremessar o leitor naquela realidade, sem dar muita explicação. O que eu buscava nesse primeiro livro era movimento e ação, dentro de uma boa história.

Quando eu era mais novo e só comprava quadrinhos de super-heróis, confesso que muitas vezes tinha preguiça de ler toda a história, mas ficava horas olhando pras cenas de pancadaria, explosões, a porradaria que comia solta. Eu amava aquilo! Ia na banca pra ver as novidades. Folheava de leve as revistinhas e se não tivesse pelo menos umas boas páginas de lutas, socos e pontapés, eu nem levava!

É de certa forma, um gibi que eu gostaria de ter comprado há 20 anos, quando eu ia na banca, mas com roteiro mais denso. A narrativa tinha que ser muito boa, mas tinha também que se adequar ao traço.

Como eu falei, eu não planejava desenhar nem mesmo um único livro, mas a história tomou vida própria e página após página, fui percebendo a necessidade de deixar a mitologia mais consolidada, mais sólida. É sobre isso que serão os próximos livros. Quero trabalhar mais a história dos personagens, suas origens e o que os motivam.

O segundo livro está na finaleira. Quero terminá-lo antes do fim do semestre e lançar ainda esse ano. Tive mais tempo pra pensar nele e no roteiro. Dessa vez, desenho e roteiro estão andando junto e o processo é bem menos nervoso do que no primeiro livro.

São quase cinco anos desde o primeiro, então o desenho está um pouco mudado, as páginas também. Está sendo divertido!

3) Como foi e recepção de Absurdyum na Itália? Como conseguiu publicar lá?

Galvão - A Clélia Pinto, tradutora italiana, trabalhava num projeto acadêmico e minhas tiras eram seu alvo de pesquisa.  Mostrei pra ela o livro e ela quis mostrar pra a Lavieri, uma editora de lá. O contato foi feito e a coisa rolou! Imagina só, cara! Eu estava publicando meu primeiro livro! Na Itália!

A Lavieri Editora organizou tudo e fui convidado formalmente a participar do Napoli Comicon. Eu não entendi NADA! Muita gente já tinha contato com a história, perguntavam coisas, queriam saber quando sairia o segundo livro e etc.

Foi uma puta recepção!

Além da convenção napolitana, ainda viajamos pra várias cidades pra lançamentos menores e mais intimistas, conheci muitos artistas de lá e fiquei muito feliz com a seriedade em que as coisas eram feitas ali.

A história do livro foi pensada pra ser universal, mas tem muitos elementos tipicamente brasileiros (sem qualquer tipo de ufanismo), e isso me deixa um pouco apreensivo. Tenho receio que muitas coisas passem despercebidas pelos leitores de lá.

4) Por que resolveu fundar sua própria editora, a Juarez & Donizete? Pretende editar alguém que não seja você mesmo?

Galvão - Ah, cara. Sempre quis publicar por uma editora brasileira mas nenhuma editora brasileira nunca quis me publicar. Ha ha ha! Então, eu mesmo tive que fazer isso! Demorou um bocado pra sair algum trabalho meu fora da internet, mas está sendo legal.

Aconteceu toda uma confluência espaço-temporal mística para que eu me associasse a um parceiro secreto e se tornasse viável bancarmos um primeiro lançamento, o Vida Besta. Nasceu aí, a Juarez & Donizete Editora. Queremos sim lançar outros autores, mas precisamos primeiro, aprender a andar, entende?

5) Você pensa em fazer HQs exclusivas pra internet ou para tablets? Se interessa pelos tais motion comics?

Galvão - Cara, por mais de uma década eu só existi dentro da internet. Por um bom tempo, as minhas tiras Vida Besta eram quase que exclusivas pra web. Agora, já existem no mundo físico e estou bem a fim de dar umas voltas fora da rede. Publicar mais coisas, viajar pra lançar, conhecer outros artistas. Estou me focando nisso e tem muito projeto vindo por aí.

A Juarez & Donizete Editora tem um site próprio – www.juarezedonizete.com - e além de poder comprar os livros impressos, pode-se baixar algumas outras coisas em .PDF (como esta aqui) pra serem lidas no computador ou mesmo imprimir, se assim quiser.

Acho que a ideia de fazer uma animação completa, um desenho animado, me soa mais divertido do que um motion comics. Com o sucesso estrondoso da nossa editora, estamos pensando em abrir um grande estúdio de animação pra competir com a PIXAR e a DISNEY. Rá!

—-

Então, dia 21, quinta-feira, 19h, Galvão vai falar mais como dominar o mundo, junto do Koostella e do Pedro Franz, na Itiban. Apareeeeeçam!


Pedro Franz!!

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Pedro Franz e uma ajudante fofa

Pedro Franz e uma ajudante fofa

Depois de entrevistarmos Koostella e Galvão, chegou a vez de mostrar o bate-papo que o Lielson teve com o Pedro Franz. Tudo isso é um aquecimento pra quinta-feira, quando os 3 estarão na Itiban pra conversar com o público e autografar suas HQs.

Pedro é ilustrador e quadrinista e apareceu com seu projeto Promessas de amor a desconhecidos enquanto espero o fim do mundoque está disponível gratuitamente na internet e impresso em 3 edições. Depois disso, fez uma revista MIL, pra Cachalote, adaptou o romance Ensaio do Vazio com outros 4 artistas e quadrinizou a série televisiva de Luiz Fernando Carvalho e Paulo LinsSuburbia.

Conversei com o Pedro Franz na madrugada do sábado, e enquanto ele esperava um pão crescer, trocamos algumas ideias via bate-papo do Facebook sobre seu trabalho. Os saltos de horários são tanto dos cortes, quanto de pequenos ajustes pra tornar tudo mais legível.

23:00 – Lielson

vamos começar? como foi o contato pra fazer o Suburbia?

23:01 – Pedro Franz

O convite veio pelo Chico de Assis e Christiano Menezes, editores da Retina78. . Já havíamos trabalhado juntos em outros projetos (ilustrei o Corcunda de Notre Dame e tem uma HQ minha em um livro ainda inédito, mas que foi feito antes de Suburbia), e eles já fazem há bastante tempo a parte gráfica dos projetos do Luiz.

23:03 – Lielson

e como foi o contato com o Luiz Fernando Carvalho?

23:04 – Pedro Franz

Foi ótimo. Também gosto bastante do trabalho dele. O Paulo Lins eu só conheci depois, quando o livro já estava pronto.

23:05 – Lielson

você trabalhou com o quê pra fazer a HQ? roteiro, os episódios…

23:06 – Pedro Franz

Eu recebi o roteiro de todos os episódios e algumas fotos e à medida que eles iam filmando, eles iam me mandando mais imagens. A série tem oito episódios e definimos desde o começo que o livro teria 64 páginas e aquele formato, um pouco maior que o comum. Então uma questão importante foi encontrar uma forma que funcionasse para contar aquela história neste formato.

23:06 – Lielson

E o prazo era bom?

23:07 – Pedro Franz

O prazo era um pouco curto, pois queríamos lançar enquanto a série ainda estivesse no ar (não era uma obrigação, mas todos achamos que seria bacana). Trabalhei durante três meses nessa HQ.

23:08 – Lielson

Foi difícil isso? Achar esse caminho?

23:09 – Pedro Franz

Acho que foi interessante encontrar meios de contar aquela história. As primeiras páginas, por exemplo, resumem quase todo o primeiro episódio em um ritmo que é muito diferente do demais provavelmente eu não teria chegado a isso se não houvesse que trabalhar dentro de uma estrutura que não estou acostumado. Mas são algumas das páginas que mais gosto. E desde o começo eu quis separar essas duas realidades, ela antes e depois de chegar em Madureira.

23:14 – Lielson

tu tinha pensado em fazer algo com esse cenário antes?

23:14 – Pedro Franz

em que sentido tu diz cenário?

23:16 – Lielson

o subúrbio carioca, os bailes funks, a superdançarina…

23:18 – Pedro Franz

Provavelmente não. Tenho uma dificuldade enorme de escrever sobre o que não conheço e eu não conheço o subúrbio carioca nem os bailes funks direito.

O interessante também estava nisso: de poder contar uma história que me interessa, mas que eu provavelmente jamais escreveria. Rolou algo parecido com a adaptação do Ensaio do Vazio.

Página de Suburbia

23:20 – Lielson

como assim? E fala mais dessa comparação: qual é a diferença de adaptar da TV e da literatura…

23:22 – Pedro Franz

É estranho trabalhar com o texto de outro autor. E você precisa tornar aquele texto teu.

Quanto à diferença entre adaptar da TV e da Literatura: eu não me senti adaptando diretamente da TV, pois não foi uma adaptação do vídeo e sim do roteiro original, que ainda não estava filmado. O que, sim, foi muito diferente é que dessa vez havia um arquivo grande de imagens de referência dos atores, dos cenários e isso foi bem interessante.

Outro ponto acho que eu senti muita diferença foi com relação aos diálogos. Os diálogos do Paulo pareciam prontos para entrar no balão. Os diálogos do Carlos, que são da literatura, funcionam de uma forma muito diferente. Entende?

23:28 – Lielson

É a diferença entre algo enunciado por um ser humano e outro texto, lido na boca de um personagem de ficção. Isso mudou alguma coisa no jeito de fazer os seus diálogos, por exemplo?

23:30 – Pedro Franz

Eu gosto muito de ver a maneira como outras pessoas escrevem. Acho que isso sempre me influencia. E como normalmente escrevo roteiros que só eu e o editor (quando há) lerão, eles tem uma estrutura meio estranhas. É bom ler roteiros escritos por outras pessoas.

Mas gosto muito do jeito que o Paulo Lins trabalha os diálogos.

23:38 – Lielson

eu achei que o letreiramento do Suburbia tá especialmente caprichado. é pira minha ou tu deu uma atenção pra ele mesmo?

23:41 – Pedro Franz

A parte que mais deu trabalho foi a parte que é a Conceição narrando foi toda feita no pincel essa parte. E, cara, deu bastante trabalho. Mas eu me diverti demais encontrando diferentes maneiras de escrever as letras dos funks.

23:43 – Lielson

o Odyr disse uma vez que não se deve usar letra eletrônica e sempre fazer tudo a mão concorda?

23:44 – Pedro Franz

Concordo muito. Eu até acho que dá pra usar dependendo do trabalho do cara. No meu caso e no Odyr vai provavelmente ficar um lixo. Mas deve facilitar as coisas também.

23:46 – Lielson

o Ensaio do vazio e a MIL – Bukkake eram PB, Suburbia e Promessas de amor a desconhecidos enquanto espero o fim do mundo – Potlatch, em cores. O que gosta mais de fazer? (acho que vai dizer cor – hehehe)

Corcunda de Notre Dame

23:47 – Pedro Franz

HAHA.

Eu gosto de fazer o que acho que é mais apropriado pro trabalho, pra história.

Minha próxima HQ vai ser PB

23:48 – Lielson

o que está pensado daqui pra frete?

frente*

muitas ideias? independente ou com editoras?

23:51 – Pedro Franz

Já estou desenhando minha próxima HQ que é escrita pelo Tony Belloto e sairá pela Cia. dos Quadrinhos.

Enquanto isso tenho escrito um outro roteiro, que vai levar um bom tempo pra ficar pronto, mas que quero fazer devagar, tomando o tempo que precisa. Eu espero que ela saia pela Cia. também, se tudo der certo!

23:53 – Lielson

o que pensa do catarse? considera usar o crowdfunding pra essa nova HQ?

23:54 – Pedro Franz

Eu espero que ela saia pela Cia. também, se tudo der certo!

Mas sobre o Catarse, eu acho incrível por um lado e por outro acho que tem uma euforia muito grande.

acho que foi uma boa forma de autores independentes conseguirem financiar o seu trabalho e isso é excelente. Acho a ideia de apoio coletivo do catarse bastante boa, mas também me parece que funciona principalmente para projetos “comerciais” (ou seja: que o público compre) e me parece importante que os quadrinhos pensem políticas culturais que possam apoiar e tornar reais bons trabalhos que não sejam, por diferentes motivos, tão vendáveis. O problema é que além de termos poucos editais para os quadrinhos, os que temos parecem privilegiar o mesmo tipo de quadrinho que poderia também ter sucesso no Catarse.

00:26 – Lielson

cara, preciso ir nessa… vou colocar o lance no blog acho que na quarta e te aviso qd sair

abraço e valeu o empenho e a boa vontade

00:27 – Pedro Franz

abração

00:27 – Lielson

muito obrigado

mesmo

00:27 – Pedro Franz

eu que agradeço

—-

Então é isso, amanhã, 19h, quinta-feira, Koostella, Galvão e Pedro Franz na Itiban. Não se esqueçam!


Entrevista com Caco Galhardo

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Caco Galhardo, nosso convidado de hoje, conversou conosco rapidinho por email, entre uma oficina na Biblioteca Pública do Paraná e um belo Omelete no quarto do hotel. Vai sentindo o gostinho do que vai ter hoje, a partir das 19h na Itiban.

As HQs mais longas, tipo as que publica na Piauí tem um clima diferente de tiras como Pescoçudos e Daiquiri. Ou você não vê dessa forma? Você tem a ideia de juntar essas histórias numa publicação?

Caco Galhardo – É bem diferente das tiras. Em seis páginas, posso me estender na narrativa, aprofundar em algumas coisas. Todo ano mando uma HQ para a Piauí e com excessão da última – que foi uma parceria com o escritor Reinaldo Moraes, costumo entrar numa onda autobiográfica.

Como é ilustrar o texto de alguém, como fez em Cine Bijou?

Caco Galhardo - Ilustrar livro já é outro barato, a coisa fica só no visual. O Cine Bijou é um texto do Marcelo Coelho sobre um famoso e antigo cineclube em São Paulo, que frequentei muito, então eu já estava familiarizado com aquele universo, foi um trampo que curti muito fazer e o resultado me deixou bem satisfeito.

Qual sua rotina de trabalho, já que tem de entregar tiras diárias pro jornal?

Caco Galhardo - Faço uma tirinha toda manhã, faça chuva ou Sol. No resto do dia, trabalho ou fico zanzando por aí, trabalho muito à noite, quando a cidade para e vem aquele silêncio.

Você acha que tá todo mundo chato com o politicamente correto ou tem humorista sem noção? É possível dizer pra alguém que uma piada não pode ser feita?

Caco Galhardo - O humor de um cartunista tá muito distante disso que se faz hoje nos standups ou na tv. É outro barato, um negócio mais intimista, muitas vezes mais reflexivo do que uma piada explosiva. E tem o barato do desenho em si. Não acompanho muito o que essses Rafinhas da vida dizem por aí, mas curto muito Porta dos Fundos e acho que a liberdade no humor é imprescindível.

Como surgiu a parceria com o escritor Marcelo Mirisola em O Banquete?

Caco Galhardo – Eu tinha uma batelada de desenhos de mulheres. Mandei um monte e ele escreveu contos curtos inspirados nos desenhos. Saiu pela Editora Barracuda.


Entrevista com Vitor e Lu Cafaggi

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Desenho de Lu Cafaggi com seu irmão, Vitor

Mantendo a tradição de entrevistas com os convidados da Itiban, mandamos umas perguntas pros irmãos Cafaggi por email. Eles simpaticamente nos responderam, veja abaixo.

Laços tem uma pegada emocional muito forte. Como surgiu isso na história?

Vitor - Acho que todo quadrinho que Lu e eu fazemos tem um pouco disso. A gente se entrega e se expõe muito em cada trabalho nosso. Sempre tentamos buscar dentro de nós mesmos as próximas histórias que iremos contar. Sempre tentamos ser o mais sincero possível nessas histórias. Acredito que essa carga emocional vem daí, a gente quer fazer histórias que toquem as pessoas de algum jeito, que não sejam descartáveis. E com Laços não foi diferente.

Lu - Puxa, mas o Tinho disse tudo. Acho que é isso mesmo. Nem parece uma escolha nossa, necessariamente. A gente não pensa “hmm… quero que essa história seja bem emocional”. A gente se abre e as histórias nascem disso. Quando decidimos as coisas que vão acontecer na história que queremos contar, antes de começar esse processo de contar, a gente tem uma necessidade bem intensa de encontrar um vínculo emocional que nos permita identificar um pouco da gente mesmo na história, porque só assim conseguimos sentir que estamos sendo verdadeiros ali. E se a gente não se sentir verdadeiro em alguma medida, não vale a pena contar. A gente faz quadrinhos pra gente se comunicar com os outros, e não pra distrair os outros a respeito de quem a gente realmente é ou de quem eles realmente são. No, caso de Laços, encontrar esse vinculo emocional foi fácil pra caramba, porque a gente acompanha a Turma da Mônica desde que somos crianças, a gente sempre foi apaixonado por todos aqueles personagense e pelos (perdão) laços que os reúnem.

 

Esse é o primeiro trabalho conjunto de vocês, não? Teve alguma dificuldade ou facilidade por vocês serem irmãos?

Vitor - Foi ótimo trabalhar com a Lu. Sempre é. Sempre peço a opinião dela em todos os meus trabalhos, em cada tirinha que faço. Na graphic foi melhor ainda, porque pudemos conversar sobre a história por muito tempo, dessas conversas surgiram várias ideias para cenas e referências escondidas. Ter ela fazendo o acabamento dos meus desenhos também enriqueceu muito o produto final. Fazer a graphic em dupla facilitou muito o processo e deu mais segurança pra gente também.

Lu - Foi a primeira em que me senti realmente segura durante o processo de produção de um quadrinho. Normalmente, a minha “rotina” de trabalho é muito solta; é a coisa mais distante de uma rotina, pra dizer a verdade. Então é sempre muito fácil eu me perder no meio de tudo e me sentir completamente insegura e vulnerável durante o processo (em doses nada saudáveis). Fazer as páginas com o Tinho, tendo sempre horários certos que me permitiam respeitar o ritmo dele, foi uma verdadeira aula pra mim: aula de narrativa, de composição das cenas, de disciplina, organização, planejamento, perseverança. Uma boa aula de desapego com as páginas também. O Tinho é mais prático e sabe contar uma história em quadrinhos muito melhor do que eu, porque ele sabe exatamente o que deve ser valorizado, o que deve ser tratado com mais sutileza… Eu fico sempre perdida no meu caos de perfeccionismo e, se me deixarem, fico um ano debruçada em uma única página.

Vitor, seu personagem Valente é criado em tiras seriadas. Você tem intenção de criar uma graphic novel como Laços pra ele?

Vitor - Nunca tinha pensado em fazer uma graphic novel do Valente, e gostei da ideia. O José Aguiar fez isso com a tirinha dele, Folheteen, e ficou muito bom, deu pra explorar melhor o espaço e os limites do quadrinho. O que eu tenho são historias curtas do Valente, de dez páginas, mostrando situações do passado dele. A primeira história dessas já está 100% pronta. Tenho ideias pra mais três dessas. Só não defini ainda como serão publicadas. Mentira, já defini sim, mas não quero estragar a surpresa agora, tá muito cedo. Mas gostei da ideia de uma graphic novel dele.

Lu, fazer Laços mudou sua maneira de pensar quadrinhos?

Lu - Ao fazer uma história comprida, todas as minhas fraquezas como contadora de histórias se fragilizam ainda mais. Então, ao fazer Laços, minha maneira de pensar quadrinhos (tanto o produto final quanto o processo de construção) mudou completamente, sim, por tudo o que eu descrevi como as vantagens de fazer o projeto junto com o Tinho. Foi a minha primeira experiência com uma história comprida, que segue uma sequência de acontecimentos reais que se constroem, se cruzam, se desfazem, refazem e crescem juntos. Fazer a história com o Tinho não só me ajudou a compreender essa tessitura da narrativa, como também me ajudou a perceber como que a organização, a disciplina e o planejamento são fundamentais para nos ajudar a construir essa história com a segurança e o cuidado diário que ela pede.



Entrevista com Emilio Fraia e DW

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Emilio Fraia e DW, por Renato Parada

Conversamos rapidinho por email com os dois autores de Campo em Branco, que estarão na Itiban no próximo sábado.

1) Como você enxerga a diferença entre escrever uma HQ e escrever prosa?

Emilio Fraia – Na HQ, o produto final não são palavras, mas desenhos. Pelo menos, no tipo de álbum que o DW e eu queríamos fazer. O tom, o ritmo, o significado: tudo passa pelos enquadramentos, o traço, a disposição das cenas, as sequências. Então, depois de discutir, rascunhar e pensar muito cada detalhe, era como se eu precisasse me retirar e esperar na sala ao lado até a página ficar pronta.
2) A recepção (crítica, público) de uma HQ é diferente de um livro de prosa (no caso, O verão de Chibo) ou de uma coletânea (a Granta)?

Emilio Fraia - O interessante desse projeto que une quadrinistas e escritores é que o trabalho pode ser lido tanto pelo público dos quadrinhos quanto pelo da literatura. É muito legal pensar nessa recepção dupla, ver o que chama a atenção de cada tipo de leitor. E isso também estava na nossa cabeça na hora de criar o álbum. Eu, por exemplo, durante algum tempo, pensei em colocar uma epígrafe no livro, de um escritor (“Melhor não assombrar velhos lugares e depois ir embora deles lamentando o que desapareceu para sempre”), mas mudei de ideia, achei que ficaria “literário” demais.
3) Campo em Branco teve um longo tempo de produção. De que forma isso influenciou o produto final?

Emilio Fraia - O fato da história não ter sido criada como um roteiro pronto e então, depois, desenhada, acho que isso teve um impacto, sim. Foi um caminho, longo, que possibilitou que a gente chegasse a determinado lugar formal e narrativo. Acho que o “Campo em branco” tem muitas camadas de leitura, e isso tem a ver com o próprio tema do álbum e com o que buscamos durante o processo criativo.
4) Você pretende escrever outros quadrinhos?

Emilio Fraia - Agora estou trabalhando num romance e num livro de contos. Talvez mais adiante, quem sabe.

Quadrinho de Campo em Branco

1) Você já tinha uma produção bastante grande de HQs independentes antes da publicação de Campo em Branco. Sair por uma grande editora (Cia. das Letras) mudou alguma coisa na forma em que você faz quadrinhos?

DW – Com certeza. Foi minha primeira experiência de produção longa e em parceria. No meu trabalho solo costumo ter como premissa uma narrativa que construo de forma intuitiva, que simplesmente flui, e cujo resultado é, às vezes, tão misterioso e multi-interpretativo pra mim quanto pra qualquer leitor. Neste caso foi diferente porque houve uma produção minuciosa, pensada nos mínimos detalhes (e por isso refeita diversas vezes). Queríamos induzir certas sensações e ter um cálculo mais ou menos aproximado de quais momentos da história seriam assumidos para uma interpretação mais aberta. Além disso trabalhamos com o genial André Conti, que me fez enxergar melhor o papel de um grande editor na construção de certos tipos de trabalhos, como este. Digo também que trabalhar na “oficialidade” de uma das maiores editoras do país me fez refletir bastante também sobre o independente.
2) Já tinha trabalhado com roteiristas antes? Como é essa relação desenhista-roteirista?

DW – Sempre preferi trabalhar sozinho, porque tenho mais interesse em criar as histórias do que no desenho em si, que acaba sendo somente uma ferramenta pra mim, não sou daquelas pessoas que desenha toda hora e que ama desenhar, rs. Mas tive outra experiência legal no Vigor Mortis Comics com o Paulo Biscaia e o José Aguiar escrevendo. Apesar de não preferir, devo dizer que é divertido trabalhar em cima do texto de outra pessoa, dá pra aprender muito.
3) Fala-se até hoje na “necessidade da criação de um mercado de quadrinhos no Brasil”, pra permitir a continuidade das publicações e a remuneração dos autores. Como você vê isso?

DW – Hmm, não penso mais sobre isso. Acho que um mercado tem se formado, se não no sentido monetário, no sentido do interesse, que pra mim é o mais importante. Mas eu não faço dos quadrinhos, nem mesmo das ilustrações, o meu ganha pão, então…Enfim, gostaria muito de ver amigos que se esforçam muito pra manter essa rede de interesse sempre ativa vivendo disso. Mas ouço essas conversas de “temos que criar um mercado e blablablá” desde que era moleque, pra quadrinhos e bandas e minha conclusão é que essas coisas só funcionam quando acontecem meio “sem querer”, com ocasional naturalidade.
4) Campo em Branco é o trabalho que mais o deixa satisfeito entre tudo que fez?

DW – Hmmm, Até agora acho que sim, hehehe, mas não necessariamente. Acho que o Campo é o que tende a ser o mais “bem sucedido”, quero dizer num sentido de se comunicar com o público. Colocamos muito coração nele. Mas tenho um carinho especial também até por trabalhos antigos, que não tiveram muita repercussão. De qualquer forma, o Campo é, sem dúvida, o trabalho que eu mais refiz páginas na vida, rs, tentando atingir algum tipo de quintessência em cada quadro/página/dupla de páginas. Sei lá, acho que é um dos poucos trabalhos que consigo olhar de cabo a rabo sem ficar irritado, rs.

Então é isso, pessoal. Sábado essa conversa continua na Itiban, a partir das 17 horas. Apenas venham!


Prosa com Gustavo Duarte

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Página de Pavor Espaciar.

Gustavo Duarte vai tá na Itiban no sábado pra lançá Chico Bento – Pavor Espaciar. Daí, que nem sempre, proseamo rapidinho por email co ele, oia ali:

Você acredita em ETs? Chico Bento – Pavor Espaciar surgiu de uma história verídica? 
Gustavo Duarte - Acredito sim. A história não surgiu especificamente de um fato ou evento verídico, mas durante a história cito vários acontecimentos que acredito serem verídicos. Uns mais e outros menos. Mas tem vários lá.

Você se vê no Chico Bento de alguma maneira?
Gustavo Duarte - Um pouco. Apesar de não ter vivido no sítio ou no campo, sou do interior (Bauru) e assim como ele tive uma boa infância.
Acho que essas são as ligações.

Se o Chico Bento virasse quadrinista faria gibis parecidos com os seus?
Gustavo Duarte - O Chico que desenhei, acho que sim. Na história ele e o Zé leem os mesmos gibis que eu lia na idade deles.
Então, se resolvesse fazer quadrinhos como eu, teríamos as mesmas influências. :)

Como foi fazer seu primeiro trabalho com texto? Mudou alguma coisa na forma de criar?
Gustavo Duarte - Foi bacana. Há algum tempo queria fazer uma história com balões.
Achei que essa era uma ótima oportunidade já que o caipirês dos meninos poderiam gerar bons diálogos. Já o processo criativo não mudou nada. Só somei os diálogos durante a criação.
Pavor Espaciar é uma grande correria pra lá e pra cá com um monte de coisa acontecendo na surdina, pedindo atenção do leitor pra que elas se revelem. Isso é coisa de caipira come quieto?
Gustavo Duarte - Acho que isso tem a ver com a maneira de ler quadrinhos mesmo, independente de onde é o leitor. Tem que ter atenção nos detalhes. É algo que gosto fazer. Além da história em si, tento sempre colocar outras informações na trama que nem sempre estão na cara.

Essa conversa segue no sábado, dia 21 de setembro, 5 da tarde na Itiban. Apareeeeeçam!


Entrevista com José Aguiar

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cartaz

Amanhã, sábado, dia 5 de outubro, a partir das 17h, José Aguiar estará na Itiban para contar suas desventuras pela Alemanha, tanto pelo seu caderno de viagens (Reisetagebuch – Uma Viagem Ilustrada a Alemanha), quanto pelo projeto de intercâmbio de quadrinistas que ajudou a formatar (Osmose – Brasil e Alemanha em Quadrinhos).

joseaguiar

Pra começar os trabalhos, conversamos com ele por email. A entrevistinha pode ser lida a seguir:

Tanto pelo Reisetagebuch, quanto pelo projeto Osmose, percebe-se uma ligação sua com a Alemanha. Como surgiu isso?

José Aguiar - A ligação veio por causa da minha esposa, Fernanda Baukat, que desde antes de namorarmos estudava alemão e sonhava conhecer a Alemanha. Com ela tive o primeiro contato com o idioma e também com um grupo de teatro chamado Wir Sprechen Deutsch (Nós Falamos Alemão) do qual ela participava. Fui à Alemanha para acompanha-la quando foi premiada com uma bolsa-sanduíche da UFPR na Universidade de Leipzig. Não fosse por ela talvez nunca tivesse visitado aquele país. Nem teria feito meu Reisetagebuch. Obrigado, querida!
O projeto Osmose surgiu para mim em decorrência da boa repercussão tanto das exposições do “Reise”, quanto do meu trabalho na Gibicon. O senhor Reinhardt Sauer, na época diretor do Goethe-Institut de Porto Alegre, visitava Curitiba e fui convidado a conhecê-lo. Era 2011 e ele estava interessado em criar um programa bilateral de residência artística para quadrinistas do Brasil e Alemanha.
O Goethe-Institut na última década trouxe ao Brasil vários quadrinistas alemães ainda desconhecidos por aqui. Eu tive a oportunidade de colaborar com as visitas de FLIX, Ulli Lust e Jens Harder para Curitiba. Essa ideia do Sauer coroou esse diálogo, tornando-o, enfim, bilateral. O que foi perfeito graças a chegada do “Ano da Alemanha no Brasil”, que se iniciou agora em 2013.
Na ocasião pensei que seria convidado a ser um dos artistas residentes. Mas ele procurava autores locais que nunca tivessem ido para a Alemanha. Algum tempo depois, para minha surpresa, ele me convidou a tomar parte na coordenação do projeto. Não fui à Alemanha de novo, mas ajudei a formatar o projeto e mandando três grandes artistas para lá: João Montanaro, Paula Mastroberti e Antonio Amaral.

Osmose

Você sempre quis fazer o livro de viagens na Alemanha, estava somente juntando material pras HQs ou por qualquer outra razão?

José Aguiar - Em minha primeira viagem para lá eu não tinha a intenção de fazer um livro sobre o assunto. Estava mais interessado em usufruir a experiência, pois se tratava de um semestre em que estava quase desligado do meu ambiente normal, longe da minha zona de conforto. Tanto que no início passava mais tempo fotografando do que desenhando. Mas o bombardeio de informações logo colocou em mim o desejo de rabiscar. Surgiu uma ou outra ideia de HQ em minha cabeça, mas ainda era cedo e descartei tudo. Tinha muito que entender sobre aquela experiência antes de fazer algo concreto sobre ela. Assim, aos poucos fui desenhando só para mim. Com o tempo, na medida em que fui enchendo meu caderno, surgiu a ideia de uma exposição no meu retorno. Foi o que aconteceu no fim de 2006, na sede do Goethe-Institut Curitiba. A ideia do livro veio bem depois.

Ilustração de Reisetagebuch, por José Aguiar

Reisetagebuch é um livro de viagens bem no estilo clássico desse tipo de material: desenhos, fotos e depoimentos do autor que viveu as experiências contadas no livro, tudo bem pessoal. Existiu um limite da intimidade do autor que não quis revelar?

José Aguiar - Eu sempre gostei de livros de ilustração. Nunca achei que seria capaz de reunir um número suficiente de desenhos sobre um tema que justificasse o livro. Então essa era uma vontade que provavelmente ficaria para um futuro distante. Alguns anos antes eu tive contato com cadernos de viagem editados pela editora Casa 21 e comecei a me interessar pelo tema. Mas eu não viajava muito. Ainda mais para um lugar tão distante e diferente do que conhecia. Esse vivência me amadureceu de muitas maneiras. Não fosse assim não teria feito o livro da maneira como ficou. 
Inclusive, no conceito inicial, seria outro formato e teria bem menos texto. Mas ao revisitar o material que havia produzido, pensar no que faltou ser ilustrado, repensei tudo.
O distanciamento pelo tempo me permitiu uma reflexão sobre tudo o que vivi. O que me ajudou a escrever depoimentos sinceros, pois eu queria conversar com o leitor. Eu queria que ele se sentisse companheiro na jornada. Um amigo. 
O limite dessa intimidade com o leitor provavelmente é aquele que não me permitiu abrir mais a intimidade do casal de viajantes. Se falasse de nossa vida pessoal em primeiro plano, o livro teria outro sentido. Aí seriamos protagonistas, personagens! Mas a minha intenção era falar da Alemanha. Não de nós. Sim, através do livro somos o canal entre o leitor e aquele país através de meu ponto de vista. Mas não vi sentido em esmiuçar todas as experiências para tentar forjar uma relação mais expositiva. Isso eu preferiria fazer na forma de uma ficção inspirada em nossas viagens. Tenho uma ideia para uma graphic novel que parte desse princípio que espero realizar em breve.

capa_reisetagebuch_alemanha

Qual é a diferença de pensar o material do Reisetagebuch e de uma HQ?

José Aguiar – Acredite ou não, Reisetagebuch foi um projeto mais fácil de fazer do que uma HQ. Como não se tratava a princípio de um de livro, foi surgindo organicamente. Primeiro em desenhos em meu caderno, depois ilustrações de temas específicos que renderam duas exposições até chegar à ideia do livro. Já uma HQ precisa de um planejamento mais ordeiro desde o princípio, senão acaba inconclusa ou sem sentido.
Quando chegou a hora de escrever o livro, a partir das imagens que criei e do acervo que montei, já estava tudo lá. Era só por a casa em ordem.

Arte de Paula Mastroberti, que esteve em Berlim

Qual foi seu trabalho no Osmose como curador e de que maneira chegou a esses artistas?

José Aguiar - Na verdade, a curadoria do evento ficou a cargo do jornalista e tradutor Augusto Paim. Eu participei das discussões e escolhas dos possíveis candidatos, pois era consultado durante todo o processo devido a minha experiência como autor e curador de eventos de quadrinhos. Mas as minhas reais funções foram ajudar na formatação do projeto, cronogramas de trabalho e parâmetros editoriais para os artistas, com quem mantive contato durante suas viagens. Quando a Libretos assumiu a edição do livro acompanhei o processo para que estivesse dentro dos critérios definidos pelo Goethe-Institut.
Os artistas foram escolhidos a partir de diversos critérios: queríamos que representassem diferentes regiões, gerações e traços de ambos os países. Que fossem artistas capazes de realizar tanto roteiro quanto desenho, mas que tivessem uma obra autoral, no sentido de não serem autores que trabalham sob encomenda para os mercados americano ou europeu. E, como disse antes, que ainda não tivessem visitado o país onde iriam registrar em uma HQ inédita.
Assim, cada um viveu um mês longe de casa e criou, além dos diversos esboços presentes no blog do projeto, o livro Osmose – Brasil e Alemanha em Quadrinhos que se tornou meu segundo projeto realizado sobre a Alemanha em 2013, publicado no mesmo ano do meu diário de viagens pessoal, o Reisetagebuch – Uma Viagem Ilustrada pela Alemanha, o que fechou um ciclo de minha vida relacionado à Alemanha.

Então, é isso. Amanhã José Aguiar vai levar um pouquinho da Alemanha pra Itiban! Apareeeeeeçaaam!


Entrevistamos Liber Paz

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Liber

Sábado tem lançamento da HQ As coisas que Cecília  fez do Liber Paz aqui na Itiban. Pra aquecer o bate-papo, mandamos umas perguntas por email pra ele:

Como a ideia da história da Cecília surgiu? Não falo exatamente da trama, mas a vontade de falar sobre o que a história fala (não digo o que é porque senão vira spoiler)?

Liber Paz - Essa história trata de sensações que me marcaram. Vão desde a vertigem que se sente ao ver a menina que você gosta escolher outro cara a caminhar com os amigos de madrugada voltando de um show, a música e o álcool ainda zunindo nas cabeças. Mais do que tudo eu queria falar sobre amizade e desejo, a vontade de encontrar alguém, as expectativas e decepções. Quando era adolescente, eu chamava essas sensações de “canções com sabor de madrugada”. Achei que esse tipo de coisa ia ficar na adolescência, mas estou pra fazer 40 anos e ainda sinto coisas assim. Acho que não amadureci… hahahaha!

Como você relaciona sua vida profissional – professor universitário – com os quadrinhos?

Liber Paz - Provavelmente a atividade que me dá mais prazer é lecionar. Amo o contato com os alunos, a sala de aula. Acho que acontece uma troca de histórias e saberes ali que me faz muito bem. Muita dessa energia e pensamentos me motivou enquanto eu estava produzindo o álbum da Cecília. Eu imaginava como leitores muitos dos meus alunos e alunas e pensava se a história significaria para eles e elas o que significava para mim.

O amor por histórias em quadrinhos eu sempre tive e felizmente consegui trazer isso pra vida acadêmica, quando me tornei professor do curso de Design. Além das aulas, onde leciono ilustração, desenho e projeto gráfico, eu comecei esse ano um doutorado onde desenvolvo um projeto de pesquisa que tem como objeto de estudo as histórias em quadrinhos. Lógico que levar pesquisa e produção de quadrinhos é meio que fazer um malabarismo com o tempo e energia, mas, quando paro pra pensar, acho que dei muita sorte, profissionalmente falando.

Quais são suas influências para as HQs que faz , especificamente, quais são as referências pra As coisas que Cecília fez?

Liber Paz - A minha maior influência provavelmente são os quadrinhos que Neil Gaiman escreveu durante sua fase de Sandman. Tem também um bocado de Estranhos no Paraíso, de Terry Moore, mas são histórias como a minissérie da Morte ou Um Jogo de Você do Gaiman que me inspiravam pra valer. Acho que a coisa mais fascinante do Gaiman é como ele escreve bem os personagens comuns, as pessoas. Os diálogos são ótimos e muito verossímeis. Agora me veio na cabeça uma história da saga Vidas Breves, que tinha a deusa Ishtar trabalhando como dançarina. O fantástico ali era potencializado justamente pela naturalidade e vida dos personagens comuns.

Outro gibi que mexeu muito comigo foi Xampu, do Roger Cruz. Eu li a primeira versão, uma histórinha de 3 páginas, lá por 1998 e achei tão bacana o modo como ele conseguiu captar as relações, sensações e atmosfera das bebidas, músicas e paixões que pensei comigo: “um dia quero escrever uma história assim”. Eu tinha isso na cabeça quando fui fazendo Cecília.

Quadros de As coisas que Cecília fez, de Liber Paz

Qual é a diferença entre participar de coletâneas (como Cidade sorriso dos mortos-vivos) e fazer uma HQ inteira longa por conta própria?

Liber Paz - Ah, histórias curtas são legais de fazer porque são rápidas. Você termina em uma, duas semanas. No caso de coletâneas, você recebe um convite e às vezes uma orientação ou um tema. E tem um prazo. Então, acaba sendo algo mais “profissional”, no sentido de que você tem uma meta definida e um prazo, o que não dá muito espaço pra períodos de “ócio criativo”, experimentações e indecisões. Fazer uma história longa requer um planejamento, mas também um espaço para experimentar, para deixar certas ideias madurarem. Apesar de eu ter ideia do corpo geral da história e de pra onde eu ia, existiam detalhes que me faziam ficar um tempo matutando, procurando soluções. Por exemplo, eu não sabia o que fazer com Cecília depois que ela saía da festa. Cheguei a cogitar dela ser assaltada na rua, no caminho pra casa. Mas achei que isso não funcionava dentro da história. Daí que um dia me veio a ideia que acabou virando a sequência no elevador. Por necessitar de mais tempo e espaço, penso que as histórias longas oferecem mais oportunidades de improvisos em quantidade de detalhes e soluções narrativas.

Quais são os próximos projetos?

Liber Paz - Depois da Cecília bateu uma vontade danada de fazer mais quadrinhos. Estou com um projeto baseado numa história do Ray Bradbury, que quero lançar na Gibicon, em Curitiba, agora em maio de 2014. Pra quem tiver curiosidade de procurar, é o conto “A Sirena de Nevoeiro”, no original em inglês é The Fog Horn. Basicamente é uma história de monstro marinho que me impressionou um bocado quando eu era guri. A princípio pensei em fazer uma adaptação, mas já mexi e mudei tanta coisa que descaracterizei totalmente a ideia original. A única coisa que permanece é que será uma história de monstros gigantes.


Entrevista: Peter Kuper

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Por Yasmin Taketani*

Peter Kuper

Peter Kuper

Não se pode virar as costas por um segundo para Peter Kuper sem que ele saque um sketchbook e um lápis da mochila: mesmo de pé, em meio ao calor, barulho e agitação de uma praça de alimentação, lá estava o quadrinista norte-americano desenhando. Esse cenário um tanto caótico, bem como as comemorações da torcida do Cruzeiro no Centro de Belo Horizonte, em novembro passado, está retratado em um dos cadernos do autor de A metamorfose e Desista! (adaptações da obra de Franz Kafka publicadas no Brasil pela Conrad), e responsável pela série de quadrinhos Spy vs. Spy na Mad.

Para o premiado artista, colaborador de publicações como Time e New York Times, o sketchbook tem sido não apenas um “companheiro de viagem”, mas uma importante ferramenta nos seus últimos livros: Diario de Oaxaca, registro autobiográfico do período (2006 a 2008) em que viveu no México com a família, explora diversos materiais e formatos; de volta a Nova York depois dos anos em terras mexicanas, Kuper diz ter se sentido como um turista em sua própria cidade, o que o motivou a registrá-la através desse olhar estrangeiro – da reunião dos novos desenhos, ilustrações, pinturas e breves HQs junto a trabalhos antigos sobre a Big Apple surgiu Drawn to New York. Agora, o quadrinista retorna ao cenário mexicano, mas coloca de lado a não ficção para trabalhar numa graphic novel de 300 páginas, toda colorida, pelo viés da ficção.

Na entrevista a seguir, realizada durante o FIQ 2013, Kuper, nascido em 1958, revisita sua trajetória nos quadrinhos – um misto de sorte, persistência e trabalho duro –, analisa o período em que o gênero saiu do underground para finalmente entrar nas livrarias norte-americanas e fala sobre suas adaptações literárias, preocupações enquanto artista, as dificuldades que ainda encontra para publicar e o viés político de sua obra e da World War 3 Illustrated, revista anual de quadrinhos da qual ele foi co-criador, em 1979.

Você estava me mostrando seu sketchbook, com desenhos das ruas de Belo Horizonte e mesmo da praça de alimentação do FIQ. O que atrai o seu olhar?
Tudo é interessante se você está no estado de espírito certo, com a mente aberta. Eu morei em Israel quando era criança e nós viajávamos muito pela Europa. Acho que isso despertou em mim um interesse por viajar. E quando viajo, o sketchbook é um bom jeito de se comunicar com as pessoas se você não conhece a língua: você pode desenhar algo e assim dizer que quer uma taça de vinho, ou algo do tipo. É um jeito de se relacionar com as pessoas mas também uma oportunidade muito boa para experimentar.

E quando você começou a desenhar?
Eu comecei meio tarde, na verdade. Comecei a desenhar para valer com cerca de 15 anos. Mas eu lia quadrinhos desde os sete anos, mais ou menos, e com mais regularidade quando tinha uns dez – então eu ia mesmo em eventos de quadrinhos. Isso faz muito tempo, tinha pouquíssima gente indo nesses eventos – e só caras –, não era nada como o FIQ.

O que te fez querer criar suas próprias histórias – passar de leitor para autor?
Eu não conseguia pensar em nenhuma outra coisa que eu quisesse fazer, apenas algo relacionado a quadrinhos. Não havia mais nada que eu realmente gostaria de passar a minha vida fazendo. Eu não tinha técnica de fato, mas tinha interesse de verdade. Eu lia quadrinhos com muita atenção e, mesmo antes de começar a desenhar, já estava absorvendo conhecimento.

Desse primeiro momento, quando você começou a produzir, para hoje em dia, como a sua visão sobre HQs e seus objetivos mudaram?
Acho que eu tinha expectativas, mas a coisa foi além. Na época em que eu comecei a fazer quadrinhos [anos 1970], quase não havia interesse por isso; havia por parte de um grupo bem restrito de pessoas. Eu tinha perdido interesse em quadrinhos de super-heróis completamente, mas como forma eu sabia que os quadrinhos eram a melhor forma de arte, juntava escrita, desenho, narrativa e qualidades cinematográficas. Eram todas essas coisas, mas você podia fazer por conta própria, imprimir e distribuir.

kuper_oaxaca_1

Oaxaca no sketchbook de Kuper

Além da falta de interesse, como era a cena dos quadrinhos nos anos 1970?
A indústria dos quadrinhos underground estava praticamente morta. A Heavy Metal era um dos poucos lugares onde você encontrava trabalho, e não havia esperança de que o público em geral viria a gostar daquilo que me interessava. Por um lado, eu acreditava nos quadrinhos completamente; por outro, sabia que a coisa podia facilmente dar errado. A mudança nesse panorama aconteceu apenas nos últimos, digamos, 15 anos nos Estados Unidos. Também havia a Europa e outros países onde se produzia quadrinhos interessantes que me ajudaram a ver diferentes possibilidades. Mas para fazer quadrinhos alternativos no início eu tinha que me autopublicar. Eu me interessava por autopublicação, mas estas eram as circunstâncias para se publicar quadrinhos de conteúdo político. Foi aí que alguns amigos e eu começamos a World War 3.

Antes de falar sobre a revista, o que você acha que aconteceu para as pessoas se interessarem por quadrinhos?
Aconteceu que um número suficiente de pessoas que entendiam o valor dos quadrinhos conseguiu cargos importantes em revistas e jornais e puderam contratar quadrinistas. Eu comecei a ser contratado por revistas para fazer quadrinhos de uma página inteira, a New Yorker começou a publicar quadrinhos, o New York Times… O interesse começou a crescer nos anos 1990, mas as livrarias e grandes editoras publicavam muito raramente. Os livros que eu lancei nesse período nem entravam nas livrarias, somente nas comic shops. Havia um mercado de comic shops muito bom. Mais tarde nessa transição, as pessoas ficaram interessadas em graphic novels, nós tínhamos críticos falando sobre elas, chamou atenção do público em geral. Leva muito tempo para chegar ao nível de qualidade em que há trabalhos sendo produzidos que são dignos de uma resposta crítica. Muito gente estava desenvolvendo suas habilidades; Robert Crumb com certeza estava fazendo um ótimo trabalho com os quadrinhos underground, mas aí são poucas pessoas que conseguem sobreviver e seguir fazendo HQs mais longas como ele e Art Spiegelman. Ou Chris Ware. Para outros quadrinistas era realmente muito difícil, porque não havia dinheiro algum envolvido. Você trabalhava numa HQ por meses e meses, recebia muito pouco e tinha um público muito pequeno.

No Brasil a crítica especializada e o espaço na mídia são limitados. De que maneira críticas e resenhas ajudam a desenvolver o seu trabalho?
A crítica não me ajudou em especial. Foi mais a atenção que ela trouxe que ajudou a fazer com que grandes editoras se abrissem para algo como A metamorfose e outros livros. Eles viam que o NYT estava resenhando graphic novels – “então agora é importante”. Eu estava trabalhando no meu primeiro livro do Kafka, Desista!, desde 1988, e ele não foi publicado até 1995, e teve dificuldades para entrar nas livrarias. Mas o NYT publicou uma resenha porque havia alguém no jornal que gostava de quadrinhos, e essa pessoa conseguiu um espaço na seção de Estilo – o que é absurdo! As pessoas iam até livrarias procurar a HQ e não a encontravam. Ela saiu por uma editora bem pequena [NBM] e deve ter vendido algo como sete mil cópias nos Estados Unidos ao longo dos anos.

E A metamorfose, que saiu por uma grande editora?
A metamorfose saiu depois que já havia interesse, pela Random House [em 2004], entrou nas livrarias e vendeu 50 mil cópias. E vende a cada ano. Foi uma mudança drástica. Mas também é um caso específico. O livro mais recente em que eu estou trabalhando se passa no México, é uma graphic novel de ficção, e eu tive dificuldades para achar uma editora – finalmente achei. Vai ter umas 300 páginas, todo colorido. Mas mesmo com todos os livros que eu fiz, tive dificuldades [para achar uma editora], porque este não se encaixa num nicho, como os do Kafka. Principalmente depois da crise, as editoras mais uma vez voltaram a ser mais cuidadosas. Eu quero fazer o que eu quero fazer, não baseado no mercado.

Kuper_Metamorphosis

Adaptação da obra de Franz Kafka

Além do mercado mais cuidadoso, que outras razões tornaram difícil encontrar uma editora para o novo livro?
Conteúdo político, um pouco de sexo e o fato de ser uma ficção que não se encaixa numa categoria específica. A pergunta que me era feita quando eu tentava vender o livro era: “Com que outros livros este se parece?”. E eu dizia “Bem… Não consigo pensar em outra graphic novel similar”. Em literatura, talvez, mas não exatamente. Eles queriam um sucesso garantido – autobiografia funciona, por exemplo.

Esta é sua primeira obra de ficção?
Bem, O sistema também é ficção. Ele saiu pela DC – foi outra situação estranha…

Neste caso também foi você que levou o projeto para a DC?
Sim. Acho que praticamente minha carreira inteira é baseada na reinvenção – cada livro é diferente do último, então eu não tenho uma única vertente. O que fez as coisas darem certo foi muita sorte. Tinha essa pessoa com quem eu havia trabalhado em várias revistas, e ele foi contratado pela DC e perguntou se eu tinha algum projeto. Eu disse: “Você provavelmente não vai querer que eu faça, mas… O livro não tem palavras e eu quero fazê-lo inteiro em stencil, é cheio de coisas que não são tradicionais nos quadrinhos”. E ele disse: “OK, faça o livro”. Mas este foi o único que eu fiz com ele. O editor morreu e foi o fim da minha relação com a DC. Mas na sequência a Mad viu a obra e me convidaram para o Spy vs. Spy.

Você disse estar sempre testando coisas novas, diferentes em relação ao seu próprio trabalho. Você busca isso também em relação ao trabalho de outros quadrinistas, ao que está sendo produzido no momento?
Eu fiz uma autobiografia quando muita gente estava fazendo autobiografias, porque eu adorava os quadrinhos que estava lendo nesse formato. Eu comecei a pensar no período em que vivi no México e fiz um livro que era de fato não-ficção, retratando minha experiência lá. Senti que tinha muita informação dessa minha experiência que daria uma história interessante, e se tornou mais ou menos uma autobiografia por causa desses detalhes que eu sabia que eram de fato únicos.

Mas testar novas coisas, formas diferentes, é um desafio que você se impõe?
Quadrinhos são incrivelmente expansivos. Há tantas coisas para se fazer: pode ser jornalismo; eu ainda não terminei com autobiografias, há tantos aspectos diferentes nelas; talvez eu faça outra adaptação de literatura. O que eu não quero… Eu gosto de evitar fazer coisas baseadas numa demanda do mercado. Se alguém me propõe uma ideia, um trabalho, às vezes dá certo, mas muitas vezes não, porque eu quero realmente autogerar as ideias, de modo que eu me sinta próximo a elas. Não é que eu esteja tentando fazer algo diferente toda vez, é apenas o jeito como eu trabalho.

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Desista!

Sobre adaptações: você iniciou Desista!, de Franz Kafka, nos anos 1980, seguido por The jungle, de Upton Sinclair, em 1991, e A metamorfose nos anos 2000. Por que transformar literatura em quadrinhos?
Eu tinha acabado de ler Kafka e tinha achado muito visual. Na verdade, eu pensei que seria um bom jeito de mostrar as possibilidades dos quadrinhos. E eu estava definitivamente – principalmente já que quadrinhos não eram aceitos por adultos – tentando criar para um público adulto que não lia quadrinhos. Isso tem sido uma cruzada, de certa forma. Eu até entendo, algumas pessoas se assustam, como com uma língua diferente – “eu não falo francês”, “eu não falo quadrinho”. Acho que isso é um impedimento para muita gente, porque elas não sabem direito para onde olhar ou para onde ir. E Kafka era como uma âncora, eu podia fazer coisas malucas, mas Kafka estava sempre junto. Então, gente que nunca tinha lido quadrinhos pegava o livro como uma primeira experiência e descobria que podia ler HQs: “Ei, eu consigo entender essa linguagem! É complexa mas não é inacessível”.

E o que o levou a escolher essas histórias ou autores especificamente? Tanto Sinclair quanto Kafka têm obras bem políticas.
Upton Sinclair principalmente. Ele estava realmente promovendo o socialismo, mas essa história era sobre a condição humana, também, e o sistema. Eu também queria fazer algo que estilisticamente o público que não lia quadrinhos não reconheceria como sendo apenas dos quadrinhos. Eu fiz O sistema com stencil, sem palavras e às vezes sem quadros. Porque qualquer coisa que alguém dissesse que entendia como sendo quadrinhos e não gostava, eu poderia dizer: “Várias HQs têm quadros, palavras e são desenhadas no estilo de super-herói. Aqui está uma que não tem nada disso”.

E como você trabalha as adaptações literárias? Como transpor não só o conteúdo, mas o trabalho estético com as palavras? Em Desista! você usou o texto integral e original.
Eu achei que seria um sacrilégio mudar uma palavra. Apesar de que, ironicamente, cada tradução é diferente e eu tenho que admitir que prefiro as mais antigas, que provavelmente não são tão exatas, porque são mais duras – mas me parece mais Kafka. Quando vejo as novas traduções, eu detesto, elas são quase modernas.Eu me baseei em três traduções [de A metamorfose]. Por exemplo, uma delas dizia: “Let the devil take it all”. Mas a tradução atual, moderna, é: “To hell with it”. É muito diferente. Então eu fiz essas escolhas, até porque não faria sentido produzir a HQ com o texto integral, exatamente porque ele está descrevendo um quarto e o desenho dá conta disso. Então, eu tentava encontrar o que o desenho podia dizer que iria substituir o texto, e o que era importante ser mantido do texto.

Seu trabalho é frequentemente caracterizado como sendo forte na crítica social e na visão politizada. Você enxerga sua obra assim?
Sim, é verdade. Mas eu acho que várias coisas são questões políticas. Se você está discutindo sexo, é uma questão política porque as pessoas têm opiniões muito distintas a respeito. E às vezes coisas que eu achava que não eram políticas causaram mais reação. Sexo é extremamente político, é uma censura que não se possa mostrar sexo. Mas às vezes inclui-lo é mais eficaz do que tentar fazer um political statement. Eu estou sempre buscando novas maneiras para dizer as coisas, tenho assuntos sobre os quais quero falar – a situação do mundo, minhas preocupações em relação à vida.

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Página de Drawn to New York

Mesmo em Drawn to New York pode-se ver uma crítica social, ainda que não esteja explícito.
Se eu escrevo sobre o 11 de setembro, é completamente político, mesmo se eu apenas conto como foi o meu dia no 11 de setembro. Tantas experiências pessoais são políticas. Pode-se dizer que super-heróis nos quadrinhos é político, mas em uma outra direção, porque dependendo do quadrinho, ele está promovendo quase uma visão fascista. Muitas vezes, quando uma pessoa diz que não é politizada… Não votar é uma ação política, a indiferença pode ser uma ação política.

Assim, é sua intenção mudar a sociedade, ou o leitor, de alguma forma?
Eu não acho que se possa ter quaisquer expectativas quanto a isso. Eu faço porque me sentiria mal se não fizesse. Realmente sinto que estamos no limite, com sérios problemas – aquecimento global, há problemas em todo o mundo. Sempre houve, mas nós estamos num novo patamar, há eventos que não podemos ignorar. Então, a minha pergunta pessoal, que faço para mim mesmo, é: “O trabalho que eu estou fazendo fala sobre isso ou sou apenas outra pessoa procurando se sustentar e se preocupando consigo mesmo?”. Muitos artistas estão interessados em fantasia e coisas do tipo e são felizes fazendo isso. Eu só sei que fico infeliz se faço algo que não me atrai. É uma escolha pessoal.

Você poderia falar um pouco sobre o contexto que o levou a criar a WW3 em 1979?
Bem, Ronald Reagan estava prestes a se tornar presidente, a Guerra Fria estava à toda, falava-se muito sobre guerra nuclear, sobre bombardear o Irã por causa de uma situação envolvendo reféns e Nova York estava num período muito ruim, com muitos sem-teto. O clima era bem tenso. Meu principal interesse era fazer quadrinhos sobre guerra nuclear, mas ninguém estava interessado em publicar isso. Meus amigos também faziam quadrinhos e nós víamos o trabalho de outros artistas que achávamos interessantes mas que não estavam sendo publicados. Nós havíamos feito fanzines na adolescência, ido a festivais de quadrinhos e feito o que você está fazendo. Então, a autopublicação não estava descartada.

Mais de trinta anos depois, o conceito e a motivação política da revista mudou?
De certo modo, não. Eu diria que o motivo pelo qual fizemos a revista, entre outras coisas, foi capturar a história que não estava necessariamente na grande mídia. Muito do que estava na edição da WW3 sobre o 11 de setembro não estava sendo mostrado na grande mídia. Nós fizemos uma edição contra a Guerra do Iraque. Ainda que não tenha necessariamente mudado os fatos, ela conta como um documento, mostra que havia pessoas que eram contra a guerra. Na História, não se pode enterrar completamente… É como a arte contra os nazistas que sobreviveu: nós podemos ver e constatar que havia pessoas contra o nazismo, isso está representado.

E quanto ao modo de fazer quadrinhos na revista, você nota grandes diferenças?
Acho que não mudou muito. Todo mundo melhorou, e ainda publicamos novos artistas. Algumas ideias estão mais desenvolvidas do que na época. Uma das conquistas da revista é que alguns dos artistas que trabalham nela hoje são pessoas que cresceram lendo a WW3. Era meio que uma mensagem ao léu: alguém de outro estado via a revista e via a possibilidade de criar quadrinhos. É uma coisa pequena, mas pode ser algo grande. Se fosse apontar uma conquista para o que fazemos, é que essas pessoas cresceram com a revista e tornaram-se colaboradoras. Mas o público leitor não cresceu muito, nós imprimimos duas mil cópias.

E vocês não a publicam online, em formato digital.
Não, é uma das muitas coisas a se fazer.

Quase tão importante quanto falar sobre esses assuntos é possibilitar seu acesso…
Você tem toda razão. Estamos tentando consertar isso. Uma universidade escaneou todas as edições, desde a primeira – tudo isso está digitalizado. Agora temos que cuidar de direitos autorais… É um pouco complicado. Mas há uma antologia saindo em março, com 300 páginas, capa dura, e vai ser um livro digital também.

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No bate-papo no FIQ, você brincou dizendo que uma das razões para a revista estar durando tanto é não haver dinheiro envolvido.
Bem, você pode contar quantas bandas fizeram sucesso e então se desmancharam. Tão logo o dinheiro entra, ele muda o jeito como as pessoas se relacionam. Eu faço a minha carreira como desenhista, então estou sempre pensando como posso monetizar isso. Mas em relação à revista, especialmente uma revista de viés político, isso significaria ter um plano de negócios, alguém para assinar os cheques e perguntas como “enquanto editor, eu devo receber mais porque trabalho cinco vezes mais que fulano?”. Então nós dissemos não, todo mundo recebe o mesmo. Quem contribui com uma página recebe o mesmo que alguém que contribui com vinte – zero. É bem descomplicado desta forma. O que não significa que não é um problema não fazer dinheiro algum… E é por isso que ela sai uma vez por ano.

O fato de você fazer quadrinhos profissionalmente, tirar daí o seu sustento, afeta seu trabalho?
Às vezes é complicado. Spy vs. Spy é o meu trabalho “oficial”. É um pouco diferente dos outros, de algo que eu crio do começo ao fim, mas é prazeroso. Sempre há um certo nível de dúvida e medo, eu estou sempre me perguntando se deveria estar fazendo isso, ou se ainda deveria estar fazendo isso. Mas o fato de as pessoas apreciarem Spy é um aspecto que eu valorizo. WW3, meus projetos, adaptações, aulas – eu tenho que trabalhar, o tempo todo. Participar de festivais é muito divertido, mas também é tempo em que eu não estou trabalhando em outras coisas.

Ainda assim, as resenhas têm sido muito positivas: elas dizem que você tem uma “alma humanista”, “consciência social” e um “coração aberto”.
É… é muito emocionante para mim, principalmente quando eu venho a um festival como este e as pessoas dizem que algo que eu fiz teve um significado para elas. Isso faz com que tudo faça sentido para mim. Eu nunca sei que impacto o que estou fazendo terá. Acho que diferentes pessoas têm diferentes reações ao meu trabalho – espero que a maioria de modo positivo –, mas se eu pensar demais sobre isso – será que isso vai importar? Alguém vai gostar?… Houve tempos em que me diziam que quadrinhos não eram interessantes como forma de arte, mas essa nunca foi uma questão para mim. Eu sempre soube que era a coisa certa a se fazer. Mas eu ouvi esse tipo de coisa de muita gente e, anos depois, ainda escuto o tempo todo. O que não mudou e não muda o jeito como eu me sinto em relação ao meu trabalho.

Então houve períodos em que você esteve insatisfeito com o seu trabalho, ou mesmo pensou em parar de fazer quadrinhos?
Com certeza. Algo a que eu tinha me dedicado tanto não vendia nada, recebia uma resposta muito ruim… Alguns livros eu passava talvez uns cinco meses desenhando depois de ter pensado sobre a história por anos. Eu tinha que trabalhar neles entre outros trabalhos, coisas assim, e depois eram sete meses tentando vendê-los. Eu tinha muitas crises pensando se aquilo era minimamente interessante para alguém e se era algo em que eu deveria investir o meu tempo. Eu devo ter sido rejeitado por 15 editoras antes de conseguir vender alguns livros. Outros eu conseguia entrada nas livrarias, mas as vendas eram baixas e o editor vinha dizer como o livro estava indo mal – aquele no qual eu tinha colocado anos e anos de trabalho. Mas mesmo quando estou em crise, é meio que uma necessidade. Se eu não estou desenhando, sinto como se…

Ter dificuldade para publicar é compreensível quando falamos no início de uma carreira, mas isso acontecer hoje em dia é no mínimo curioso. Deveria ser mais fácil, considerando que você já tem uma carreira, um trabalho consistente…
Bem, acho que depende do projeto. Mas eu tenho muita sorte. Posso fazer quadrinhos o tempo todo, então as minhas crises são de certa forma problemas menores. E sim, podia ter um tapete estendido na minha frente e alguém dizendo “o que o senhor quiser fazer, senhor Kuper”. Mas olha, há muitos e muitos artistas cujas carreiras duram muito menos, ou que experimentam um grande sucesso e são logo esquecidos. Há muitos artistas excelentes que as pessoas não conhecem. Eles também estão lutando, eles podem não vender muito mas isso não muda a qualidade do que fazem. Então você tem que desenvolver algo interno… algo que te lembre que isso não importa.

Mesmo editoras enfrentam problemas. Recentemente, a Fantagraphics fez um crowdfunding para publicar seus próximos livros.
É caro fazer o tipo de livros que eles fazem, com a qualidade que têm. Eu trabalhei com a Fantagraphics por muitos anos, e por quase nada em termos de dinheiro. Recentemente, era Peanuts que sustentava a companhia, e talvez alguns livros que iam bem. Publicando novos talentos, é difícil atingir o público. Um público de cinco mil, dois mil leitores é grande para a editora. Distribuição ainda é um problema; e, depois da crise, a economia vai mal.

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The system

O mercado de quadrinhos brasileiro está crescendo, passando por um período de plena criatividade artística e se profissionalizando. Que conselhos você teria, visto que o mercado americano passou por essa fase?
Eu acho que é um pouco como o movimento dos quadrinhos underground [nos EUA]. Esses caras ainda estão fazendo trabalhos avant-garde, não muito diferentes do que eles costumavam fazer, mas para um público mais amplo. Parece que sempre há muitas possibilidades quando não há muito dinheiro envolvido, e muita gente que cresceu lendo quadrinhos alternativos vê essas possibilidades. Em 2000, nos EUA, você via carreiras crescendo e de repente havia um mercado para vender todos esses quadrinhos. Eu não acho que o mercado afete a criatividade de modo negativo, ele torna possível, de modo que o quadrinista não tenha que trabalhar num restaurante e fazer quadrinhos à noite. Significa que você pode se dedicar aos quadrinhos. Algo como A metamorfose, se eu tivesse que desenhar à noite, depois de todo o resto, ele não teria saído tão bem. Há uma dedicação mental que torna o trabalho melhor. A graphic novel em que estou trabalhando agora, tem sido muito difícil parar de fazer outros trabalhos, porque ela não está me pagando agora. Mas logo depois do Brasil, eu vou trabalhar nesse livro por meses. Quer dizer, eu sempre tenho que fazer outros trabalhos, mas vou poder me concentrar neste por um tempo. E este seria o caso para os artistas daqui. A profissionalização do mercado não torna a coisa menos artística, significa que você consegue trabalhar as suas habilidades sem ter que constantemente arranjar tempo para isso. O artista talvez tenha que fazer algumas concessões se o seu trabalho for muito, digamos, avant-garde ou estranho. Mas o mercado alcança isso. Alguém como Chris Ware, não é como se ele fosse incrivelmente popular. As pessoas ainda têm dificuldade em ler o seu trabalho, mas ele está sendo aceito por um público maior, que está disposto a enfrentar quadrinhos complicados. Ware não mudou; o mercado mudou. Quando eu estava tentando vender meu novo livro, as pessoas me diziam como eu tinha que modificá-lo, mas eu não queria. Poderia ter tentado essas mudanças, mas talvez isso o tivesse distanciado daquilo que eu queria – neste caso, eu teria preferido não tê-lo feito. Autopublicação seria então a saída. Mas teriam me levado anos a mais de trabalho. E quando eu tivesse terminado, provavelmente eu teria encontrado uma editora, porque a maioria quer ver o livro pronto, o que é maluco. Os meus rascunhos são bem minuciosos, o texto inteiro estava lá, agora eu estou apenas ajeitando – eu posso mostrar a história para alguém e ele consegue visualizá-la com facilidade. É muito difícil se autopublicar, em termos de ter que fazer várias coisas. Muitos desses trabalhos não são criativos – distribuição, venda, todas essas coisas que eu sempre tento evitar e nunca consigo na WW3. Se me livrasse de todas essas etapas eu teria mais tempo para desenhar, mas eu também gosto de conhecê-las para saber quando uma editora está fazendo um bom trabalho. Para a maioria dos artistas, é preciso fazer alguma parcela disso.

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*Yasmin Taketani é jornalista.
** As imagens reproduzidas neste post foram retiradas do site de Peter Kuper.


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