Sábado, os gêmeos estarão aqui na Itiban pra lançar sua adaptação do romance de Milton Hatoum, Dois irmãos. Conversamos com eles por email pra ir aquecendo o bate-papo do dia 11, 16h.
A outra adaptação que vocês fizeram, O Alienista, teve uma repercussão muito boa tanto de público, quanto de crítica, ganhando inclusive um prêmio Jabuti. Vocês imaginam que Dois irmãos pode repetir ou até mesmo superar esse sucesso?
Fábio – Eu acho que o potencial de repercussão do Dois Irmãos é maior. O romance do Milton é muito mais complexo que o conto do Machado, foi um desafio muito maior para nós e acho que existia um limite para o que podíamos fazer em termos gráficos e narrativos nas 62 páginas de O Alienista. Nas 224 páginas do novo livro, nos aprofundamos muito mais, exploramos muito mais as possibilidades narrativas dos Quadrinhos.
Gabriel – Nossa preocupação sempre é contar uma boa história e fazer um bom Quadrinho. As pessoas não precisam saber de antemão se é uma adaptação, nem precisam ter lido o original. Nosso livro precisa ser auto-suficiente e andar com as próprias pernas e ir tão longe quanto possível. Nosso trabalho evoluiu muito desde O Alienista, assim como o mercado nacional de Quadrinhos cresceu. O ponto de partida do livro novo já é diferente, o alcance é maior. Mas o que vai definir tudo mesmo é a história.
Vocês sempre publicaram seus materiais autorais com muita constância. Como foi dedicar todo esse tempo para o Dois irmãos?
Gabriel – Encaramos o Dois Irmãos como um projeto autoral, da mesma maneira que fizemos com O Alienista. Só assim, com esse tipo de comprometimento e envolvimento pessoal com a história, conseguimos aguentar quatro anos no mesmo projeto. Levamos o tempo que precisou para contar a história do jeito que queríamos. Havia uma época em que lançávamos um livro novo por ano, mas eram histórias de 60, 80, 100 e poucas páginas. A partir do Daytripper, passamos das 200 e entramos numa fase de histórias mais profundas, projetos mais longos, que demoram mais mesmo.
Fábio – Nós sempre trabalhamos em mais de um projeto ao mesmo tempo. Enquanto fazíamos o Daytripper, também estávamos desenhando Casanova e BPRD. Durante o Dois Irmãos, fizemos mais uma edição do Casanova e escrevemos e desenhamos uma mini-série do BPRD, além de outras histórias curtas. Equilibramos projeto pessoais com outros mais comercias, pois sabemos que tudo demora muito e os projetos pessoais ainda não sustentam nossas vidas durante todo o tempo que demoram para ficar prontos.
Qual é a parte/cena/passagem favorita de vocês na HQ Dois irmãos? É a mesma parte que vocês mais gostam na prosa do Milton Hatoum?
Gabriel – O jeito que o livro é narrado é cheio de cenas fortes, momentos intensos e marcantes, e todos estes momentos nós tentamos transportar para os Quadrinhos com a mesma intensidade, ou até deixá-los mais épicos. A poesia do texto do Milton está nas palavras e muitas delas nós aproveitamos na HQ, mas muitos dos melhores momentos da HQ estão nas imagens. Alguns dos momentos mais fortes da nossa HQ são em silêncio.
Fábio – Do livro, o capítulo que eu mais gosto é o segundo, que conta como Halim conheceu a Zana. É tão forte que nós chegamos a pensar em começar a HQ com esta parte da história. Já na HQ, acho que o capítulo 6 ficou muito emocionante, todo o encontro com a Pau-Mulato é incrível, a busca por Omar em todos seus detalhes, passando pelos bares, pelo rio, pelo porto. Foi um capítulo onde o desenho e a narrativa gráfica contaram muito.
Gabriel – Gosto muito do jeito que o livro começa e como ele termina. Conseguir fazer uma introdução e um final tão fortes quanto o livro era muito importante para nós. As páginas da introdução foram as últimas que desenhamos, para que estivessem carregadas da emoção da história inteira.
Em diversas palestras, mesas, bate-papos, entrevistas, vocês falam muito em correr atrás do que se acredita, ir atrás de seu sonho. Qual é o sonho que vocês estão atrás?
Fábio – Nosso sonho é poder contar as nossas histórias, em Quadrinhos, explorando as possibilidades dessa linguagem pela qual somos apaixonados. É uma jornada que nunca acaba e que, se tudo der certo, não tem volta.
O traço do Bá está muito sintético nessa obra. Trata-se de uma evolução natural de estilo ou foi algo pensado pra esta HQ?
Gabriel – É um pouco das duas coisas. Fazia tempo que eu queria voltar a fazer uma história em preto e branco para explorar certas soluções mais sintéticas do desenho, poéticas, às vezes abstratas. Além disso, fizemos um estudo do nosso desenho para encontrar elementos que combinassem com a história, com o cenário regional e com o clima de Manaus. Já no desenho a história precisava apontar para essa parte do Brasil que foge dos grandes centros urbanos das nossas outras histórias. Os personagens, por sua vez, também foram pensados para que suas emoções fossem “lidas” rapidamente. Nisso, uma simplificação dos traços, essa busca de tornar cada personagem um ícone, um símbolo, uma imagem para ser reconhecida rapidamente, não importa a sua idade. Com personagens que envelhecem vários anos durante a história, não queríamos que o leitor perdesse tempo tentando adivinhar quem é quem.
—-
O papo continua no sábado, na Itiban, com mediação de Yuri Alhanati. Apareeeeeeça!
